Como o impeachment de Trump afeta a democracia dos EUA?
O novo inquérito fez Donald Trump o primeiro presidente a sofrer impeachment duas vezes no cargo
No dia 6 de janeiro, o congresso americano se reuniu para certificar os votos do Colégio Eleitoral, um evento tradicional que oficializa os resultados da eleição a presidente dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o então presidente Donald Trump estava fazendo um discurso a seus apoiadores reafirmando fraudes eleitorais e que tinha ganhado a eleição.
Logo depois, comandou aqueles que estavam presenciando o discurso a marcharem para o Capitólio – onde estava acontecendo a certificação dos votos – para impedirem a “fraude”.
Manifestantes trumpistas então invadiram o edifício do governo, ultrapassando barricadas, quebrando janelas e gritando: “Stop the Steal” (“Pare o roubo”, em inglês). O incidente deixou centenas de feridos, sete mortos e uma democracia em estado grave. A parte mais chocante foi o antigo presidente justificando a violência e confortando os insurgentes, seja por mensagens no Twitter ou por vídeo.
Felizmente, a invasão foi repelida, porém, depois de horas sem resposta das autoridades, e a contagem dos votos foi mantida até madrugada do dia seguinte. Uma semana depois do ataque e uma semana antes do fim do seu mandato, a Câmara dos Representantes aprovou o segundo impeachment de Trump.
Como o impeachment de Trump afeta a democracia
Nenhum presidente americano já foi impedido duas vezes durante sua presidência, muito menos em um mandato só. Antes da eleição de 2020, os Estados Unidos já estavam divididos entre Democratas e Republicanos, encarando a disputa presidencial como uma chance de “salvar o espírito da América”.
No lado dos Democratas, Joe Biden pregava uma volta dos EUA aos costumes originais antes de Trump, tendo uma postura mais humana em relação à imigração, melhorar a economia e comprometimento com a ciência. No lado dos Republicanos, Donald Trump prometeu salvar a América dos Democratas, restaurar a ordem e alegando que o único jeito que seu adversário venceria seria através de fraudes na eleição.
A retórica inflamada de Trump sobre sua derrota ter sido injusta e que Biden ganhou roubando causou uma ruptura nos americanos, com metade da população não aceitando os resultados da eleição. Em seus últimos meses na presidência, Trump nunca admitiu ter perdido e tentou várias vezes mudar o resultado da eleição com resultados insatisfatórios. Sua última tentativa foi em 6 de janeiro.
O segundo impeachment de Donald Trump foi criticado várias vezes por membros do partido Republicano, dizendo que o processo é inconstitucional para impedir alguém que não é mais presidente, que sua derrota presidencial já é uma consequência e um processo de impeachment iria dividir mais o país.
Embora muitos estudiosos que estudam a constituição americana debatam sobre o mérito da constitucionalidade do processo, não impedir Trump por ter incitado violência cria um precedente assustador: nos últimos dias de seu mandato, um presidente tem a liberdade de cometer qualquer crime, não importa o quão horrível seja, se estiver semanas de sair do cargo.
Deixando claro, Trump já dividiu o país nos últimos 4 anos enquanto presidente, mas não torná-lo responsável pelos eventos em 6 de janeiro daria mais espaço para políticos à impunidade e provavelmente haverá mais episódios como esse. Nesse ponto, é impossível negar o papel do antigo presidente no ataque terrorista sendo que muitos da multidão estavam usando bonés vermelhos “MAGA” (Make America Great Again), carregando bandeiras pró-Trump, gritando “Fight for Trump” – “lutando por Trump”, em inglês.
Mesmo fora do poder, Trump ainda tem poder sobre o eleitorado republicano e, consequentemente, o partido republicano. O resultado do julgamento do Senado mostrou o apoio automático do partido republicano ao antigo presidente, excluindo sete senadores do partido que votaram para sua condenação. O motivo por qual senadores como Lindsay Graham, Ted Cruz e Marco Rúbio absolveram Trump foi por sobrevivência política e a chance de se tornarem figuras proeminentes para a presidência em 2024.
Claro, Trump ainda pode concorrer e terá seus mais leais apoiadores no seu lado, mas caso ele seja impedido por investigações criminais a sua conduta ou problemas de saúde, esses senadores querem se tornar a segunda opção dos republicanos.
Era ingênuo pensar que a saída de Donald Trump iria curar a democracia estadunidense da noite para o dia, também era ingênuo achar que o Partido Republicano tomaria ações para condenar Donald Trump. Porém, é importante lembrar que ele está fora da presidência e que sua imagem sempre será como o primeiro presidente a perder duas vezes no voto popular e como o primeiro presidente a ser impedido duas vezes nos Estados Unidos. E o que ele mais odeia ouvir é que ele perdeu e que a democracia venceu.
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