How the US Uses Sports Diplomacy in Foreign Policy

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Você já ouviu falar em “Soft Power”? Esse é um termo que eu escutei muitas vezes ao longo dos meus quatro anos de bacharelado em Relações Internacionais. Na teoria, é um conceito para deixar qualquer aspirante a diplomata apaixonado pela futura profissão – a possibilidade de exercer poder sem fazer uso da força bruta, do poderio militar, da capacidade de destruição.

Na prática, eu só fui entender como de fato ele funcionava há cerca de três anos, já dentro do mundo do esporte, em uma experiência profissional nos Estados Unidos. A ferramenta pela qual vi o famoso soft power sendo aplicado é um outro termo que passou a fazer parte de todas as minhas pesquisas desde então: “Sports Diplomacy”.

Eu cresci acreditando que os americanos eram uma população egoísta e dominadora. Fiz um intercâmbio de seis meses no estado de Ohio durante o ensino médio e voltei com a certeza de que eles não tinham nenhum interesse em conhecer genuinamente as culturas e povos para fora das suas fronteiras. Mas, 15 anos depois, o governo estadunidense me convidou a voltar – dessa vez, não era mais eu pagando para aprender a língua e os costumes deles, eram eles pagando para eu desenvolver o meu projeto aqui no Brasil. Mas porque eles estavam gastando com isso?

O convite veio da área de Sports Diplomacy, departamento do governo responsável por diversos programas de intercâmbio esportivo que buscam fortalecer os laços do país com outras nações e que posiciona o esporte como uma importante estratégia de política externa capaz de aumentar o diálogo e a empatia cultural e, consequentemente, contribuir para a construção de uma comunidade internacional mais estável e segura.

Logo que iniciei minha jornada no Global Sports Mentoring Program, respondi a um questionário que perguntava a minha real opinião sobre os Estados Unidos – sobre o governo, sobre sua política externa global, e sobre a relação bilateral com o Brasil. Esse mesmo questionário foi repetido ao final do programa. Conseguem imaginar a diferença nas minhas respostas? Eu mesma fiquei impressionada com o quanto a minha opinião havia mudado em tão pouco tempo. Eu havia sido diretamente impactada pelo soft power, e estava bastante satisfeita com isso.

Durante as cinco semanas de programa, eu conheci uma outra faceta da população norte-americana. Propositalmente eles me fizeram acreditar que, dali em diante, eu sempre deveria considerar os EUA como a minha primeira opção para uma cooperação bilateral, ou para investir em uma especialização profissional. A cada reunião com empresárias, empreendedores ou funcionários do governo, eu criava mais apreço e admiração pelas pessoas e instituições daquele país – em pouco tempo eu me vi virando porta-voz de um país estrangeiro.

E qual a capacidade do Brasil em promover algo semelhante? O programa de “Sports Envoy” é um exemplo altamente replicável – o governo envia atletas e treinadores para realizarem clínicas esportivas para jovens em outros países, sempre em parceria com os consulados e embaixadas locais. Quantos dos nossos atletas e treinadoras teriam potencial para exercer essa mesma atividade? Tenho certeza que muitos.

Outro bom exemplo é o programa “Sports Visitors”, que recebe grupos de jovens e treinadores estrangeiros para uma curta, porém intensa, experiência de intercâmbio cultural esportivo. Em parceria com ONGs e universidades locais, o governo viabiliza a interação entre diferentes povos, sempre colocando o americano como a referência de aprendizado, ao mesmo tempo em que ensina à sua população sobre tolerância e respeito à diversidade. Quantos jovens e treinadoras do mundo todo não amariam vir ao Brasil para uma imersão de duas semanas de atividades, jogos e conversas? Qual o potencial de esses mesmos jovens voltarem aos seus países e passarem a considerar o Brasil como parceiro ideal nos seus planos futuros?

Fica aqui a minha provocação ao ecossistema esportivo brasileiro para buscarmos formas de incluir o esporte na agenda da nossa política externa e potencializar a nossa capacidade de sermos admirados e vislumbrados pela comunidade internacional, dentro e fora das quatro linhas.

The basic concept of power is the ability to influence others to get them to do what you want. There are three major ways to do that: one is to threaten them with sticks; the second is to pay them with carrots; the third is to attract them or co-opt them, so that they want what you want. If you can get others to be attracted, to want what you want, it costs you much less in carrots and sticks.

Harvard Joseph Nye

Júlia Vergueiro é sócia e presidente do Pelado Real Futebol Clube, fundadora da Nossa Arena e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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