Delicate Questions

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Não é segredo para ninguém que Biden, dos Estados Unidos, e Bolsonaro, do Brasil, não se bicam, o que na realidade pouco ou nada importaria, não fossem as relações econômicas, de investimentos e comércio, que envolvem os dois países. O presidente brasileiro, último no mundo a reconhecer a vitória do norte-americano, mais turrão continua defendendo seu amigo imaginário, Trump, em quem em muitos planos dá sinais evidentes de que se espelha, enquanto o atual inquilino da Casa Branca é mais discreto , embora jogue duro.

Foi nesse clima que emissários de Biden, chefiados por nada mais nada menos que o conselheiro de Segurança Nacional, visitaram Brasília recentemente. Antecedidos, necessário lembrar, pelo diretor da CIA. Pragmáticos, os visitantes não fizeram cerimônias em tornar público o recado que vieram dar. Para Washington, a China é, mais que concorrente, inimigo declarado, espécie de sucessor da antiga União Soviética entre os convenientes fantasmas tão bem cultivados naquelas bandas.

Aí as tentativas de aliciamento, de vagas menções a interesses mútuos e promessas ainda mais vagas de colaboração. Tudo isso com uma razão bem específica e mais imediata, curiosamente herança da era Trump. A tecnologia G5, que deverá condicionar a vida no planeta em futuro já muito próximo, campo portanto sobre o qual os Estados Unidos, que já registram perdas, fazem o possível para não perder o controle.

Assim, sem medir palavras ou contornar suas alegações, os emissários de Biden repetiram, agora num diapasão mais alto, que a nova tecnologia deve chegar ao Brasil por mãos americanas, sem se dar conta, ou fingindo ignorar, que a China chegou muito antes e já é a principal fornecedora de equipamentos de processamento e distribuição de dados e oferece sua tecnologia 5G, que alguns consideram mais avançada, inclusive com promessa de transferência de tecnologia. Para complicar, e para os dois lados, justamente nossos principais parceiros comerciais, a escolha de um significa ofensa ao outro.

Simpatias e antipatias, que são pessoais e não deveriam ter lugar em políticas de Estado, o ideal seria que o Brasil, como já fizeram alguns países europeus, pesasse prós e contras e não se comprometer, isoladamente, com nenhum dos dois lados. Por elementar, não se trata de saber ou considerar quais são os interesses dos Estados Unidos ou da China e, simplesmente, fazer o que for melhor para o Brasil. Nada tão elementar e tão simples, sobretudo enquanto Bolsonaro insiste em afirmar que a eleição de Biden foi uma fraude.

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