Where Is the US Going after Afghanistan?

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Para onde vão os EUA depois do Afeganistão?

O dia 15 de agosto de 2021 já passou para a história como aquele em que o grupo armado Taleban retornou ao poder no Afeganistão, após 20 anos de dominação norte-americana. O império sucumbiu às agruras dos mais de 7.300 dias de guerra nos quais muitas foram as baixas entre os afegãos, mas as norte-americanas nem foram insignificantes nem pouco sentidas internamente. A recuperação do poder pelo Taleban aconteceu de forma rápida e sem resistência por parte do presidente empossado pelos EUA, Ashraf Ghani, que fugiu do país com o objetivo de se livrar das acusações de traição e da forca ou do paredão.

No discurso do dia seguinte à tomada do poder pelo Taleban, o presidente norte-americano Joe Biden assumiu uma posição que pareceu mais que corajosa, em se tratando de alguém que teria fortes propensões bélicas, pelo que seu histórico levaria a crer. Acontece que o cenário político e econômico em que o Taleban retornou ao poder no Afeganistão não é o mesmo de 20 anos atrás para justificar uma permanência corajosa com custos econômicos e humanos ainda mais altos. Ao partir em retirada, o presidente norte-americano diz que a intenção dos Estados Unidos da América com a ocupação não era “construir uma nação”, papel que caberia aos próprios afegãos. “Agora eles vão ter que lutar por si sós”, livrou-se Biden.

Além do fato de que há 20 anos essa não era a intenção do governo norte-americano, o mandatário deixou a sala de entrevistas sem respostas para uma série de indagações possíveis que os jornalistas não puderam fazer. Vejamos algumas: Onde estava o poder militar norte-americano que não foi capaz de destruir ou limitar consideravelmente o poderio bélico do Taleban? Onde estava a Inteligência norte-americana que não foi capaz de perscrutar o rearmamento do Taleban, possivelmente por russos e chineses, para permitir uma reação tão rápida e fácil? Onde estava a Inteligência norte-americana que não detectou os movimentos do Taleban de retorno ao poder? O que fizeram os Estados Unidos da América nos últimos 20 anos para criar as bases da democracia no Afeganistão?

O retorno dos Estados Unidos da América à política interna – tão negligenciada em termos sociais em razão do alto comprometimento orçamentário com as investidas bélicas externas – e regional vem acompanhado do gosto amargo de quem perde quantum de poder no cenário internacional. É possível que “Deus proteja” mais “as tropas dos EUA” se mantidas em terras nacionais e regionais que em longíquas e inóspitas terras afegãs, nas quais não se sabe exatamente por que se luta. Se no Vietnã os Estados Unidos achavam que lutavam contra os soviéticos, mas lutavam mesmo era contra quem se insurgia contra norte-americanos e soviéticos, o que nos autorizaria a imaginar que no Afeganistão seria diferente (trocando-se os papeis dos soviéticos por russos e chineses)?

Com tudo a indicar que o Talebã dará início a uma campanha de terror mais violenta que as praticadas nos genocídios da Antiga Iugoslávia e de Ruanda, cabe perguntar também o que foi feito com a dinheirama torrada em 20 anos de conflito, sem que a guerra tivesse servido para fazer do mundo um lugar mais seguro.

Ainda é cedo para pensarmos em termos geopolíticos mais amplos. Se o movimento do vizinho do norte, somado aos de russos e chineses, representar uma redistribuição do poder mundial, com a correspondente aquiescência com a posição de player entre outros players por parte dos Estados Unidos, o regresso ao lar para cuidar das questões sociais tão negligenciadas pode vir acompanhado de uma presença maior no continente americano.

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