Why Does Cuba Bother the US Government So Much?

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Mais uma vez, Cuba é flanqueada com uma ‘guerra híbrida’, de enorme potência destrutiva, pelos governos americanos de Trump e Biden

O imperialismo americano – e por definição todo imperialismo – não tem compromisso com a democracia, a justiça social e a soberania nacional. Ao contrário, para realizar seus objetivos de acumulação de riqueza e poder, esses pilares são incômodos, diques a serem removidos para que seus interesses sejam realizados.

Os governos americanos, por óbvio, não estão preocupados com a qualidade de vida povo cubano, com a democracia cubana; aliás, não estão preocupados em defender nenhuma democracia, em nenhum país do mundo. Ao contrário, atuam para destruir toda e qualquer democracia nacional que foi ocupada pelo seu povo e serviu de base para a construção de projetos nacionais soberanos e independentes, que recusam a tutela americana.

Posto isso, por que Cuba, esta ilha de 12 milhões de habitantes, incomoda tanto os governos americanos? Pela rebeldia, pela coragem, pela dignidade conquistada: condutas inaceitáveis ao império. O povo cubano, em determinado momento da sua história, resolveu dizer basta à miséria, à violência e à humilhação. Derrotou uma ditadura sangrenta que tinha transformado Cuba em um bordel americano, e, sob a liderança de Fidel e do Movimento 26 de julho, escolheu outro caminho: o da democracia popular e, posteriormente, o da democracia socialista.

O povo cubano escolheu repartir a riqueza do país, dividir o poder político e assegurar a dignidade e os diretos básicos como: alimentação, saúde, educação, trabalho e cultura para todas e todos. Encontrou na revolução socialista sua forma de viver. E desde o início foi condenado por suas escolhas, depois da fracassada invasão armada americana na Bahia dos Porcos, foi alvo de um infame e ilegal bloqueio econômico que já perdura há 60 anos, numa guerra permanente e sem tréguas contra a população do país.

O povo cubano resiste em suas escolhas, enfrentando enormes desafios econômicos e políticos. O fim da URSS, o bloqueio econômico, os limites naturais da ilha, fenômenos naturais (como os furacões), as exigências sempre atualizadas do povo e da juventude, a morte de Fidel, a COVID 19 (com enormes prejuízos ao turismo), não são desafios menores, são gigantescos. Nos momentos mais difíceis, a escolha do governo cubano sempre foi a de cuidar dos mais vulneráveis e afirmar seu internacionalismo solidário. O povo brasileiro conheceu e se encantou com a qualidade e a dedicação das médicas e dos médicos cubanos que trabalharam no Mais Médicos.

Mais uma vez, Cuba é flanqueada com uma “guerra híbrida”, de enorme potência destrutiva, pelos governos americanos de Trump e Biden. Os desafios para os dirigentes do PCC e das organizações políticas do país são enormes. Cuba vive uma transição de suas lideranças políticas, e, com a presidência de Miguel Díaz-Canel, busca uma atualização estratégica para sua economia e sua democracia socialista. O processo de reforma na Constituição Cubana, realizada recentemente e com amplo processo de participação popular, é expressão desta busca democrática. Os investimentos em busca de uma economia com base tecnológica avançada, em especial, nas áreas de biotecnologia, fármacos e vacinas, são expressão dessa busca por uma economia vigorosa.

Cuba, apesar do bloqueio, foi o único país na América Latina a produzir sua própria vacina contra a covid-19 e a imunizar toda a sua população, resultado da sua capacidade tecnológica e do compromisso com a vida do seu povo. Os desafios políticos são enormes para manter, mesmo sob brutal pressão externa desestabilizadora e importantes restrições econômicas, um espaço público interno aberto, capaz de assegurar legitimidade e acerto nas decisões do governo cubano.

Em um momento em que o capitalismo ataca com fúria destruidora as democracias nacionais e os direitos sociais básicos conquistados pela luta popular, quando avança de forma devastadora sobre a natureza do planeta, impondo um padrão de concentração de riqueza e poder político insuportável, o nosso lugar só pode ser o de solidariedade ao povo cubano. Solidariedade à rebeldia, à coragem e à capacidade de luta que o povo cubano tem demonstrado ao longo de sua história para defender suas conquistas socialistas e revolucionárias.

(*) Miguel Rossetto foi deputado federal pelo PT, vice-governador do Rio Grande do Sul e Ministro do Trabalho e Previdência Social

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