Biden impopular
Democrata completa um ano de mandato em meio a crises e fortalecimento de Trump
Não é comum um presidente eleito por maciça votação popular terminar o primeiro ano do mandato desaprovado pela maioria dos cidadãos. Na estável democracia dos Estados Unidos, tanto menos.
Desde a administração de Harry Truman (1945-53), até a qual chegam as pesquisas de popularidade mais comparáveis naquele país, o fenômeno só ocorreu duas vezes: com Donald Trump (2017-2021) e agora com seu sucessor, Joe Biden.
A manifestação precoce da impopularidade apenas nos dois mandatários mais recentes talvez não seja uma coincidência. Pode representar a contraface de haver agora um território bem mais pedregoso que os anteriores para o exercício da Presidência norte-americana.
A despeito dessas hipóteses mais estruturais, o fato é que a gestão do democrata Joe Biden aniversaria em meio a crises simultâneas.
O controle da pandemia, uma de suas promessas mais salientes na campanha de 2020, acabou sabotado pela fatia relevante de cidadãos que se recusa a tomar vacina.
Mesmo tendo saído muito na frente da maioria dos países e dispondo de doses em abundância, os EUA mal conseguiram ultrapassar a marca de 60% da população protegida. O Brasil, que começou tarde e com carência de imunizantes, está se aproximando de 70%.
O plano do democrata para estimular vacinação nas maiores empresas foi derrubado na Suprema Corte. Com quase dois anos de pandemia, o país registra pouco menos de 2.000 mortes por dia.
Na economia, Joe Biden prossegue com a sua maior tacada, um plano de US$ 2 trilhões em investimentos em infraestrutura, equidade social e sustentabilidade ambiental, travado no Congresso por desavenças em seu próprio partido.
Enquanto isso, a inflação ao consumidor atingiu 7% em 2021, uma alta do custo de vida que não ocorria na pátria do dólar havia quatro décadas. Não está certo o arrefecimento da carestia, apesar da promessa de um ciclo de restrição de crédito pelo Fed, o banco central.
Como se não bastassem os temas domésticos, Biden enfrenta ainda uma dificílima costura geopolítica com seus parceiros europeus diante de uma cada vez mais provável agressão militar russa à Ucrânia.
O prospecto para os democratas, que enfrentam eleições legislativas em novembro, não é bom. Não será surpresa se uma onda republicana, sob o comando de Trump, tirar da agremiação de Biden os comandos da Câmara e do Senado.
O populismo autoritário do ex-presidente, derrotado há pouco mais de um ano, recuperou-se e está à espreita. O exemplo dos EUA mostra que, tão importante quanto derrotá-lo nas urnas é governar bem, para não dar oportunidade a seu fortalecimento e seu retorno.
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