Mais juros nos EUA
FED abala mercados e tende a dificultar incerta política econômica do Brasil
Numa mudança abrupta para seus padrões, embora plenamente justificada pela conjuntura, o banco central americano vem desde o fim do ano passado preparando os mercados financeiros para um ciclo acelerado de alta dos juros.
Ao contrário do que prevaleceu entre a crise financeira de 2008 e o advento da Covid-19, a inflação se tornou um fator de grande preocupação. Em 2021, a elevação dos preços ao consumidor nos Estados Unidos chegou a 7%, a maior em quase três décadas.
Inicialmente percebida como fenômeno temporário e decorrente dos abalos nas cadeias de produção durante a pandemia, a pressão inflacionária vem se mostrando mais persistente, o que aumenta o risco de contaminação das expectativas de longo prazo.
Nos últimos meses, ficou mais claro que a resistência da carestia não decorre apenas da continuidade dos problemas logísticos e da falta de insumos —trata-se também de um quadro de forte crescimento econômico e desemprego perto das mínimas históricas.
Os fortes estímulos, na forma de gastos públicos inéditos em situação de paz, cortes de juros e expansão de liquidez, levaram a uma retomada rápida. O crescimento do Produto Interno Bruto em 2021 ficou em 5,7%, e as projeções apontam para ao menos 3,5% neste ano.
A taxa de desemprego já recuou a 3,9%, patamar não muito distante do que o Fed considera como pleno emprego. Como a crise sanitária ainda mantém um grande contingente fora da força de trabalho, é possível que ainda haja algum espaço de expansão do mercado.
Por ora, no entanto, as pressões salariais são crescentes e talvez estruturais, dadas as grandes mudanças no mercado e a dificuldade de preenchimento de vagas.
Nesse contexto de exuberância, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que subirá os juros, hoje em zero, a partir de março —e que também deve iniciar a redução de seu balanço de ativos.
A diferença em relação ao observado nas últimas duas décadas é que a correção agora deve ser bem mais rápida, levando a taxa básica de juros a cerca de 2,5%, patamar considerado neutro, até 2023.
O viés é de aperto maior se a inflação se mostrar duradoura, um risco presente quando se tem em conta a alta continuada de preços de energia e matérias-primas.
Como sempre é o caso quando sobe o custo do dinheiro no principal centro financeiro do mundo, o rearranjo não deve ser indolor, algo que já se observa na forte queda das Bolsas neste início de ano.
É um primeiro sinal dos abalos que podem chegar aos mercados de crédito e nos fluxos de capitais internacionais, um alerta importante para o Brasil, que passará o ano eleitoral sem grande clareza a respeito da política econômica.
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