COVID-19 Emergency Continues, but Official Neglect Grows in the United States*

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Emergência da Covid continua, mas aumenta negligência oficial nos EUA

Posturas sobre decisão em relação a máscaras mostram que fracasso em curso é uma escolha, não um destino

Lúcia Guimarães

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20.abr.2022 às 17h51

Uma pesquisa de opinião divulgada nesta quarta-feira (20) mostra que 56% dos americanos são a favor do uso de máscaras em qualquer forma de transporte público. Com a previsível politização da saúde pública, o apoio ao item de proteção é três vezes maior entre os que se identificam como democratas do que entre os republicanos.

Na segunda (18), uma juíza federal inexperiente e desqualificada (nomeada, claro, por Donald Trump) derrubou o uso obrigatório de máscaras em voos e outros meios de transporte recomendado pelo governo Biden. Em poucas horas, liberou geral —nesta quarta, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças anunciou que vai recorrer.

As maiores empresas aéreas americanas anunciaram que não vão mais requerer máscaras a bordo. Estados e municípios têm independência para regular saúde pública em linhas de transporte local. Nova York não vai seguir a estupidez da juíza Kathryn Kimball Mizelle, mas a confusão foi instalada, já que a chamada área triestadual —Nova York, Nova Jersey e Connecticut— tem um sistema interligado usado diariamente por mais de 10 milhões de passageiros.

Janeiro e fevereiro de 2022 estão entre os cinco meses mais letais da pandemia nos Estados Unidos. A Covid é hoje a terceira principal causa de morte no país e, há seis meses, o número de óbitos diários passa de mil.

Nesse contexto de normalização inexplicável de doença e morte, Joe Biden disparou, nesta semana, a seguinte asneira: o uso de máscara é uma decisão individual.

Não estou aqui para questionar a acuidade cognitiva do presidente, mas como uma doença infecciosa que já matou perto de 1 milhão de americanos pode ser dominada sem medidas sanitárias coletivas? Essa forma de individualismo tão associada à cultura dos EUA, mas também epidêmica no Brasil desde o começo da quarentena, traz a aceitação de algo tão amoral como cruel.

Só nos EUA, 7 milhões de habitantes estão no grupo cujas comorbidades os tornam especialmente vulneráveis a tal decisão individual. São adultos e idosos que vão ter que calcular melhor o risco de se engajar em rotinas como comprar alimentos ou entrar numa agência bancária. Acima de tudo, são adultos cujo sustento pode depender de trabalho presencial —e inúmeras empresas estão aproveitando a falta de coesão oficial nessa real emergência sanitária para reduzir as opções de trabalho remoto.

A cobertura vacinal nos EUA continua a variar de estado para estado, com as áreas dominadas eleitoralmente pelos republicanos registrando índices tão baixos quanto 51% de adultos imunizados.

O suposto fatalismo demonstrado na rejeição a medidas simples como o uso de máscaras é, de fato, um sinal de privilégio, já que mortes entre minorias raciais, idosos e pessoas de baixa renda são mais numerosas. E não é novo: é o mesmo comportamento complacente com o espantoso número anual de vítimas de massacres com armas de fogo.

A abdicação demonstrada no comentário de Joe Biden sobre a escolha individual, além de sugerir preocupação eleitoral que ele prometeu não interferir no combate à pandemia, se baseia numa dicotomia absurda. Conviver com a Covid não é uma escolha entre punir a população com restrições severas e o abandono niilista em relação à evolução do vírus.

Há medidas locais que podem ser ativadas e desativadas de acordo com a taxa de infecção. Os EUA começaram 2020 como o país mais preparado no mundo para combater uma pandemia. O fracasso em curso é uma escolha, não um destino.

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