The Right Is Dead, Long Live the Right

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Este fim-de-semana assistiu-se a um encontro de derrotados. Tratou-se do CPAC (Coligação de Ação Política Conservadora).

O ex-governante derrotado nas eleições mais participadas da história do Brasil, agora semi-exilado nos Estados Unidos, foi convidado a marcar presença no encontro que juntou alguns dos mais fervorosos e conceituados populistas americanos da atualidade.

Os republicanos americanos, cada vez mais entrincheirados por Trump, colocaram-se ao lado de Bolsonaro. Esse, por sua vez, orgulhosamente e sem falar inglês, afirmou que não vacinou obrigatoriamente ninguém no Brasil durante a pandemia. Após esse anuncio, reinou o gaudio e desvario na audiência redneck que o escutava.

Ainda que nem todos os participantes no encontro tenham sido derrotados nos atos eleitorais que protagonizaram, não é menos verdade que as grandes e mais destacadas figuras foram mesmo os ex-presidentes do Brasil e dos Estados Unidos.

Os dois têm em comum algumas características. Ambos foram figuras de prol nas eleições mais participadas dos seus respetivos países, das quais saíram derrotados. Portanto, a força do voto deu-lhes tanto a vitória como a derrota, desfechos normais em democracia.

Outra semelhança entre os dois populistas é não aceitarem o resultado eleitoral. Os seus discursos proferiram afirmações que têm vindo a ser, sem surpresa, desmontadas após um breve fact-check.

Análises pessoais à parte, o que se verifica é um enorme vazio na ala republicana americana. O partido está cada vez mais extremado, consequência essa que traz graves repercussões internas e externas.

A “transformação cega” republicana tem levado ao surgimento de vários opositores internos. São disso exemplos De Santis, da Florida, Nikki Haley, da Carolina do Sul, ou Mike Pence (ex Vice-Presidente de Trump).

A cada dia que passa as afirmações populistas tornam-se mais ridículas e inacreditáveis. Recorde-se as palavras de Trump durante o fim-de-semana. Segundo o próprio, será o único que conseguirá impedir uma III Guerra Mundial. Também atacou, sem surpresa, a NATO e o seu próprio partido naquilo que respeita à segurança social americana.

Desconversou ainda sobre a criação de emprego, onde ele próprio foi o campeão do desemprego, passando pela negação das alterações climáticas apesar da neve inédita que cobre o estado da Califórnia, afetando mais de 10 milhões de americanos.

A grande preocupação com o desnorte extremista republicano é o facto da sua última presidência, e do seu mais forte candidato à data, representar um retrocesso para os Estados Unidos e seus aliados. Os efeitos colaterais da governação de Trump ainda reinam, seja pelo agravar da iniquidade galopante nas sociedades contemporâneas ou num mundo baseado na pós verdade.

Estas derivas sem adesão ou apoio bastante – por ora – em Portugal, assumem-se como um exemplo da linha vermelha que deve estar bem traçada e intransponível.

E essa intransponibilidade deverá ser clara sob duas perspetivas: por um lado, o cidadão eleitor não se pode deixar ludibriar pelo populismo e demagogia do discurso facilitista e antissistema; por outro, deve ser um forte alerta a todos os políticos para que nunca se deixem tentar pela mesma, através de alianças para atingir poder a qualquer custo. Essa “dízima” pode colocar em causa o futuro do coletivo como atualmente se conhece.

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