The United States, China, and Europe: A Crippled and Insecure Triad

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A Assembleia Popular Nacional reelegeu Xi Jinping presidente da China para o período 2023-2028, numa votação sem abstenções nem votos contra, pudera. Trata-se de um terceiro mandato, possível apenas depois de uma revisão constitucional. No topo desde 2013, Xi é agora o líder absoluto. Pode escolher uma nova corte dirigente que lhe seja inteiramente fiel, se fidelidade houvesse em política, o que muito duvido. Ao longo da vida, nas múltiplas interações que tive com toda uma panóplia de dirigentes, aprendi que onde falha a democracia, sobra a subordinação.

Xi quer ser visto, dizem os analistas chineses e estrangeiros, como o construtor da China 3.0, a superpotência dominante em 2049. A referência 3.0 pretende equiparar Xi a Mao Zedong (China 1.0) e a Deng Xiaoping (China 2.0), as duas figuras maiores da memória da era comunista. Na realidade, Xi faz mais pensar na obsessão ideológica que caracterizou Mao do que no pragmatismo de Deng. As divisas que agora propôs vêm em grande parte da dita Revolução Cultural de Mao, para além de me lembrarem os slogans do nosso MRPP pinta-paredes de há cerca de 50 anos. São as seguintes: manter a calma; continuar determinado; procurar progresso e estabilidade; proatividade e criatividade; união sob a bandeira do Partido Comunista; ousar lutar; ousar vencer. Por detrás deste palavreado esconde-se o medo da agitação social, a necessidade de manter o crescimento económico para compensar a ausência das liberdades, e, acima de tudo, a salvaguarda da dominação de alguns, sob a capa do partido, sobre o resto da sociedade.

O governo que saiu desta Assembleia Popular Nacional mais não é do que uma máquina administrativa complexa destinada a pôr em execução as diretrizes vindas do partido. A submissão da administração e da economia aos ditames de Xi marca um retrocesso em relação às reformas de Deng, que havia tido um impacto extraordinário sobre a liberdade de empreender bem como sobre a atração de investimento estrangeiro. No caso deste último, a tendência das empresas ocidentais para desinvestir na China e aplicar os seus recursos no Vietname, na Tailândia, na Índia, no Bangladesh e mesmo no Japão irá conhecer um aceleramento.

De um modo mais amplo, qual deverá ser o quadro de relacionamento político da União Europeia com esta China 3.0? A resposta tem várias dimensões.

A primeira passa por contrariar a política de aproximação e seguidismo europeu face aos EUA, que tem neste momento como principal ator Ursula von der Leyen e a sua Comissão. A Europa deve evitar um alinhamento sem reservas. É no nosso interesse manter uma posição suficientemente distante em relação aos intentos americanos relacionados com a China. Washington e Beijing estão a seguir uma via muito perigosa que poderá levar à confrontação. A probabilidade é, sejamos claros, elevada. A Europa tem de se manter afastada dessa rota.

A política europeia deve assentar na continuação dos contactos diplomáticos frequentes e dos acordos pontuais, caso a caso ou mais gerais. Será uma relação baseada na prudência e na avaliação dos riscos a par e passo. Terá zonas que estarão fechadas à cooperação, por razões estratégicas, para salvaguardar as nossas necessidades vitais, em caso de emergências e de desentendimentos. Mas é uma maneira de construir plataformas comuns e de manter uma cooperação produtiva e pacífica.

Em matérias de interesse geopolítico, ou global, como as questões do clima, da gestão das zonas polares, dos oceanos, do espaço, da ajuda ao desenvolvimento ou do combate ao terrorismo, a Europa deve definir muito claramente o que espera da China, enquanto grande potência e membro permanente do Conselho de Segurança. Nesta agenda, entra o papel da China na resolução do conflito criado pela Rússia na Ucrânia, e ainda, entre outros, obrigar a Coreia do Norte a ter um comportamento internacional que respeite as normas da paz. As questões da democracia e dos direitos humanos devem igualmente fazer parte do diálogo. Mesmo sem que se tenha grandes ilusões quanto ao futuro dos povos do Tibete ou de Xinjiang, é fundamental colocar essas questões em cima da mesa, nas mais diversas ocasiões. Fazer isso não significa interferência nos assuntos internos da China – ou de qualquer outro país. Significa apenas que na nova ordem internacional, incluindo na que a China 3.0 quer ver estabelecida, a segurança e os direitos de cada indivíduo continuam a ser definidos como questões fundamentais.

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