O TikTok vai dançar
Defender-se da suposta ameaça chinesa por meio de restrições não é a solução
O TikTok está com os dias contados. Pelo menos em Montana, o primeiro estado norte-americano a proibir o uso do aplicativo. Segundo o governador Greg Gianforte, por trás das coreografias fofas existe uma vigilância contumaz pelo Partido Comunista Chinês, com o objetivo de obter informações confidenciais e manipular a população.
Tudo começou com inofensivas dancinhas, músicas, brincadeiras de “lip-sync”, performances, receitas, pets, tutoriais. O sucesso do aplicativo, que conquistou mais de um bilhão de usuários, foi perdendo a inocência até chegar ao centro da disputa geopolítica entre os Estados Unidos e a China. O TikTok se transformou em um símbolo da nova guerra fria. Um símbolo da emancipação da malícia.
Mas justo o TikTok? Justo a plataforma mais bem-humorada, usada predominantemente pelo público jovem? Sabemos que quando entramos em qualquer rede social aceitamos um pacto: oferecemos informações pessoais em troca de entretenimento. Não é à toa que elas conhecem a nossa idade, localização, preferências, o dispositivo de acesso e até o ritmo de digitação. Se bobear, conhecem segredos que nem a gente sabe que tem. A grande diferença é que a ByteDance, dona do TikTok, é uma empresa chinesa e, portanto, estaria sujeita a uma lei de segurança nacional que exige que ela repasse os dados ao regime.
Não há provas contundentes de que o Partido Comunista Chinês esteja espionando os usuários pelo buraco da fechadura do TikTok. Por outro lado, sabe-se que sua versão chinesa, o Douyin, censura conteúdos enquanto promove postagens estratégicas, limitando o alcance de ideias para tornar as pessoas mais suscetíveis à influência e ao controle. A solução que os americanos propõem para o imbróglio é a compra dos ativos da plataforma chinesa. Ou banir de vez o aplicativo.
É justamente essa ideia orwelliana, a pretexto de proteger a população, o que mais preocupa, é onde mora o grande paradoxo. Lutar contra a suposta ameaça chinesa por meio de restrições é agir analogamente ao objeto que se deseja combater. A premissa de uma sociedade aberta e livre é a garantia do direito de as pessoas consumirem as informações que quiserem, com leis de proteção eficientes, mas não fechando espaços para inovações, produtos e serviços.
Seja qual for o resultado dessa guerra, ela já começa com perdedores. Perde-se não só pela politização do TikTok —que como todas as redes tem os seus efeitos colaterais—, mas pelo jogo insano que está por trás das brincadeiras inocentes da plataforma.
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