Desde o final da Segunda Guerra Mundial que os destinos dos Estados Unidos, do Japão e da Coreia do Sul estão ligados. E essa ligação continua hoje fortíssima, ou não estivesse ainda um total de 80 mil militares americanos estacionados em bases nos dois países da Ásia Oriental, ambos beneficiando igualmente do guarda-chuvas nuclear dos Estados Unidos numa vizinhança com três potências nucleares (Rússia, China e Coreia do Norte).
Mas mesmo com Japão (muito cedo) e Coreia do Sul (desde os Anos 1980) a partilharem a partir de certa altura dos mesmos valores democráticos que regem os Estados Unidos, nunca se estabeleceu uma aliança militar formal a três. Na realidade sempre foram dois pactos distintos em paralelo, um nipo-americano e outro coreano-americano, situação não-ótima, mas que foi funcionando.
Embora tivessem em comum ser aliados dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul nunca conseguiram ultrapassar desconfianças históricas, que tanto podem remontar ao século XVI, quando os japoneses tentaram invadir a Península Coreana, como à Segunda Guerra Mundial, quando milhares de coreanas foram instaladas à força em bordéis destinados aos soldados. Em alguns setores da opinião pública sul-coreana, apesar da admiração pelo sucesso japonês, está ainda muito viva a memória da colonização japonesa, oficializada em 1910.
A nova relação a três que os Estados Unidos estão a promover agora abertamente, com Joe Biden a receber na sua residência de verão de Camp David o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida e o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, assume assim uma dimensão histórica, pois embora não indo ao ponto de criar uma espécie de NATO na Ásia, oficializa um mecanismo de consulta a três em caso de ameaça à segurança na região da Ásia-Pacífico.
Em teoria, a principal ameaça partilhada pelo trio de países é o potencial nuclear da Coreia do Norte. Mas este pacto surge depois de a invasão da Ucrânia pela Rússia, que levou o Japão a anunciar a duplicação do seu investimento anual em Defesa. E é evidente que a China não deixa de interpretar – e já o fez saber – esta reunião de Biden com Kishida e Yoon como mais um passo na estratégia americana de contrariar a sua ascensão.
O que é evidente é que os Estados Unidos, apesar do envolvimento na Europa por causa da Ucrânia, não descuram a Ásia-Pacífico como a sua prioridade em termos de política externa e estão a dar vários passos no sentido de reforçar a sua posição na região, basta pensar também no Aukus, outro pacto trilateral, anunciado em 2021, e que junta Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.
Leave a Reply
You must be logged in to post a comment.