New York Hosts Anti-Climactic Week To Protect the Environment*

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Nova York é anfitriã da anticlimática semana para defender o meio ambiente

Trem da crise do clima partiu há muito da estação, e festivais de encontros não parecem a forma de facilitar uma ação urgente

O “Lollapalooza do clima” que termina no próximo domingo (24) em Nova York deve se mostrar pesado em pegadas de carbono e leve em resultados. A cidade é anfitriã da Semana do Clima em parceria com as Nações Unidas. São centenas de eventos lotando uma rica metrópole que está anos atrasada em reformas ambientais básicas.

No quesito oratória dramática, destaque para António Guterres. Ao notar o “calor horrendo com efeitos horrendos” que experimentamos em 2023, o secretário-geral da ONU declarou que “a humanidade abriu as portas do inferno.”

No quesito surdez e péssimo timing, Rishi Sunak, o bilionário primeiro-ministro britânico, escolheu esta quarta-feira (20) para anunciar um retrocesso no calendário do Reino Unido para atingir as metas do chamado “net zero global” em 2050.

O discurso de Sunak, afrouxando prazos e a implementação de substituição de fontes de energia, foi imediatamente criticado em outros países, por empresas e até pelo seu Partido Conservador. O primeiro-ministro, eleito com zero votos populares, quando o partido o indicou para o lugar da pateta Liz Truss, usou a desculpa esfarrapada e ideológica —não econômica— para a volta no tempo: a de que energia verde é sempre sinônimo de custo alto para o público.

A Semana do Clima de Nova York foi criada em 2009, seis anos antes da assinatura do Acordo de Paris. É rica em espetáculo e declarações de bom-mocismo e vem também com doses de hipocrisia, como o copatrocínio da consultoria McKinsey, denunciada pelos próprios empregados há dois anos por ter uma carteira de clientes rica em empresas que emporcalham o planeta.

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O palco da ONU é de importância inegável para propagar a consciência ambiental, além do foro evidente para promover iniciativas e cooperação regional. Como o trem da emergência climática partiu há muito da estação, festivais de encontros não parecem a forma de facilitar ação urgente.

É uma ironia morar na cidade anfitriã da Semana do Clima onde fracassei na tentativa de convencer meus vizinhos a se inscreverem num programa grátis de compostagem oferecido pela prefeitura para nossa rua. Uma simples viagem de elevador para depositar os restos de comida numa lata na calçada pareceu sacrifício demais. O que passa por reciclagem no meu edifício é amontoar e empacotar materiais que vão no final encher depósitos de lixo.

Mudar os hábitos e se adaptar depende de culturas locais, especialmente porque a deterioração ambiental coincide com o apodrecimento do ecossistema de informação. Assim como o reacionário Rishi Sunak acredita que o deus mercado é a solução para o ambiente, encontro nova-iorquinos que ainda reagem à proibição de lâmpadas incandescentes —em vigor aqui desde agosto— como uma forma de assalto aos direitos humanos, uma conspiração esquerdista.

O tempo e a energia fóssil empregados na exaltada semana para proteger o planeta não parece se refletir em mudanças reais no resto do ano. Mas desconfio que outra forma de exaltação está começando a surtir efeito. É a saudável ampliação da militância ecológica organizada que protesta contra o status quo e se fez bastante visível nestes últimos dias.

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