Biden’s Words

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Joe Biden falou à América e ao mundo, num discurso transmitido pela televisão em horário nobre. Ou talvez tenha falado ao mundo e à América. Sim, por esta ordem. E o que disse o presidente dos Estados Unidos? Disse claramente ao mundo que os americanos vão apoiar o direito de Israel a defender-se e continuar também a apoiar a resistência dos ucranianos aos invasores russos. Ou seja, que ninguém duvide de que a maior economia do mundo, o país com o maior orçamento militar, tem meios para socorrer dois aliados importantes em simultâneo. Subentendido ficou que tem meios até para mais do que isso (imaginemos que um conflito entre a China e Taiwan acontece e a América é chamada a socorrer mais um aliado).

A invasão da Rússia pela Ucrânia, a resposta israelita ao ataque terrorista do Hamas e uma eventual tentativa chinesa de reunificação pela força com a ilha rebelde são conflitos aparentemente sem ligação entre si, mas quando Biden falou dos dois primeiros, descreveu-os como desafios às democracias, e daí a obrigação moral de os Estados Unidos não falharem, nem que seja preciso o Congresso aprovar novas verbas de urgência. A inércia custaria muito mais, garante o presidente. Assim, declarou, até se evitam futuras guerras em que soldados americanos teriam de combater. E se a América está firme ao lado de Israel, não deixou de reafirmar o apoio à autodeterminação dos palestinianos, numa defesa da velha solução de dois Estados, um judaico e um árabe. Não queiram empurrar os Estados Unidos exclusivamente para um dos lados. Numa eventual solução negociada, algo que hoje parece impossível, terá de haver um papel dos americanos.

O mundo ouviu o presidente americano. E não falta quem esteja a tirar conclusões do que foi dito por Biden num discurso emotivo de cerca de 15 minutos. O Hamas ter libertado duas americanas horas depois não será mera coincidência.

Também a América ouviu o seu presidente. Falta pouco mais de um ano para novas eleições presidenciais. E Biden, que só problemas de saúde poderão impedir de lutar por um segundo mandato, expressou um desejo de unidade, condenou o antissemitismo, tanto como a islamofobia. E se os judeus da América são americanos, também os muçulmanos da América, os árabes da América, os palestiniano-americanos o são. Numa América dividida, em que muitos milhões acreditam que Donald Trump daria um melhor presidente e deveria regressar à Casa Branca, Biden quis fazer a diferença e prometeu um país leal aos seus ideais democráticos. E falou mesmo dos Estados Unidos como um farol – um farol para si próprio, um farol para o mundo.

Este foi um discurso cheio de mensagens geopolíticas, para fora. E foi também um discurso cheio de mensagens políticas, para consumo interno. Mas foi sobretudo o discurso de um homem muito emocional, um político extremamente experiente, mas nem por isso menos emocional. Veremos como é que a realidade, do mundo e da América, reage às palavras de Biden.

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