‘Yes, She Can.’ Can She?

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A América assiste ao virar de uma nova página na sua História e mantém o mundo em suspenso. As presidenciais norte-americanas 2024 têm-se pautado pela volatilidade e pela imprevisibilidade. Pela primeira vez haverá uma mulher, vice-presidente, candidata à função de presidente dos Estados Unidos da América, após a desistência do provável candidato democrata e presidente em funções, tendo como opositor um ex-presidente acusado em diversos processos judiciais e alvo de uma tentativa de assassinato. Um verdadeiro enredo de filme de Hollywood ou não fosse a atual realidade da política norte-americana.

Desafios internos como a polarização ou a violência política e desafios externos como a dinâmicas de parcerias e reforço da cooperação dos regimes iliberais – Rússia, China, Coreia do Norte e Irão -, terão necessariamente de constar na estratégica política e posicionamento do futuro ou futura líder dos Estados Unidos da América. A ordem internacional em transição de poder, o fim da hegemonia norte-americana e a emergência de outros atores no sistema internacional, como é o caso da China, conjuntamente com as atuais dinâmicas de conflitualidade – invasão russa da Ucrânia e o conflito Israel-Hamas -, exigem cada vez mais a Washington o esforço da duplicação do seu foco e da sua estratégia política na defesa dos seus interesses nacionais em termos externos.

A candidata democrata não renegou, de forma sapiente, o legado de Biden, mas tentou sair da penumbra do até agora ocupado papel de vice-presidente para se apresentar como uma futura líder de uma Administração Harris tentando criar o seu próprio estilo político. No seu primeiro grande teste enquanto candidata à Casa Branca, aquando do seu discurso de aceitação da nomeação na Convenção Democrata, Kamala Harris, deu a conhecer o seu posicionamento em questões fraturantes e caras ao eleitorado norte-americano – inflação, direitos reprodutivos, defesa da Democracia, liberdade, justiça, segurança e patriotismo -, e nomeou como grandes linhas estruturantes da sua política externa o reforço dos laços euro-atlânticos, o apoio a Israel e a contenção da ameaça russa e de demais oponentes na política internacional.

A galvanização, união e entusiasmo sentidos na Convenção Democrata em torno de Harris, exacerbado pelo apoio declarado – endorsement – de figuras tão proeminentes do partido como os Obamas, os Clinton ou Pelosi, além do próprio Biden, criaram a atmosfera perfeita para a consagração da candidata. A diferenciação face a Trump, o advogar um futuro melhor, recusar o regresso ao passado, defender uma América inclusiva, democrática, livre, justa e forte, mostra que Harris busca marcar a cadência dos eventos até ao dia 5 de novembro.

O momentum alcançado vai ser difícil de manter, sendo necessário materializar-se em votos, e o espaço temporal até às eleições pode ser contraproducente e fazer emergir fragilidades, como é o caso da sua tutela da questão da imigração, considerado como o seu calcanhar de Aquiles. Ainda assim, Harris parecer ter conseguido salvar o Partido Democrata de uma derrota anunciada face ao candidato republicano, cujo estilo eucalíptico – secando tudo à volta – e reconhecido egocentrismo tornou refém o partido republicano do denominado Trumpismo.

A América parece ávida de uma liderança forte, estável e fiável que lhe confira o seu estatuto de grande poder em termos internacionais e que mantenha vivo o sonho americano.

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