Nunca um governo, mesmo republicano, mostrou tanta afinidade com os falcões israelenses, o símbolo deles o próprio Netanyahu
O novo eixo construído na diplomacia mundial, que liga Trump e Netanyahu, é o que mais mudanças tem causado na geografia do entendimento entre as nações depois da Segunda Guerra. Infelizmente, para pior. Os americanos são os garantidores principais da existência de Israel, desde sua criação, pela ONU, com o apoio merecido da maioria da comunidade internacional, há 70 anos. Mas nunca um governo, mesmo republicano, mostrou tanta afinidade com os falcões israelenses, o símbolo dele o próprio Netanyahu, do Likud, partido da direita religiosa israelense.
A chegada ao governo Trump de dois representantes do radicalismo americano, os belicistas John Bolton (Conselho Nacional de Segurança do presidente) e Mike Pompeo (Departamento de Estado), era o ingrediente que faltava para a agenda radical de Netanyahu, no Oriente Médio, avançar com apoio americano.
Desde 1995, o Congresso apoia formalmente a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, cuja parte oriental os palestinos desejam que seja sede de seu Estado, o qual, se depender dos falcões, jamais será criado. Inclusive falcões palestinos, do Hamas, incrustados em Gaza, que pregam a extinção de Israel. Isso corta qualquer possibilidade de acordo entre as partes.
Apesar do sinal verde do Congresso, nenhum presidente, mesmo republicano, executou a transferência. Trump, Bolton e Pompeo o fizeram e, na segunda-feira, dia da abertura oficial da embaixada, 59 palestinos morreram nos choques entre forças desproporcionais. Trump despachou para a solenidade a filha e assessora Ivanka, e o marido Jared Kushner, também assessor, judeu conservador muito próximo a Netanyahu. Os americanos reconheceram Jerusalém como capital de Israel, sem nada negociar que pudesse aproximar os dois lados de um acordo de paz que Trump tanto alardeia. Os atos não seguem as palavras.
Não se pode acusar Trump de descumprir promessas de campanha. E este é um problema, porque o planeta passou a estar subordinado a um movimento inédito de isolacionismo americano, condicionado ao pensamento do eleitor do meio-oeste americano. Apertem os cintos. É assim que os Estados Unidos de Trump investem contra acordos internacionais cuidadosamente tecidos com aliados históricos. O mais recente exemplo é o entendimento para congelar o programa nuclear do Irã, de evidente cunho militar, costurado longamente durante a gestão Obama, com França, Alemanha, Grã-Bretanha e ainda Rússia e China. Mesmo com a comprovação da Agência Internacional de Energia de que os persas cumprem o acordo, Trump, para a alegria de Netanyahu e inimigos da xiita Teerã no Golfo, o principal deles a sunita Arábia Saudita, rasgou unilateralmente o acordo. O resultado não é apenas decisivo impulso a que os persas voltem a enriquecer urânio para armas, mas um abalo histórico na Aliança Atlântica, firmada pela Europa Ocidental e os Estados Unidos, com a vitória na Segunda Guerra contra os nazifascistas. Não é pouca coisa.
A aproximação histórica da Coreia do Norte é um crédito para o governo Trump. Mas quem garante que o descompromisso da Casa Branca com acordos não é observado por Kim? Seja como for, todos os grupos terroristas que se utilizam da insensatez no Oriente Médio para atuar na região e no mundo agradecem.
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