EDITORIAL
17.dez.2023 às 22h00
O Natal de Putin
Guerra se aproxima do 2º ano no pior momento para Ucrânia desde a invasão russa
Na quinta passada (14), o presidente Vladimir Putin reuniu 600 jornalistas em um centro de convenções ao lado do Kremlin e passou quatro horas respondendo a questões dos presentes e de cidadãos selecionados pelo governo para gravar mensagens de vídeo.
A cena não poderia ser mais contrastante com a ausência do tradicional evento, no ano passado, quando a Rússia fechava a temporada sob o impacto de uma ofensiva contra suas forças invasoras no norte da Ucrânia, país que fracassara em conquistar em fevereiro.
O grande apoio ocidental subsequente a Kiev, com armas, dinheiro e sanções, nunca buscou derrotar a Rússia totalmente. De forma calculada, a ideia era a de desgastar progressivamente Putin, torcendo por uma mudança de regime em Moscou que nunca veio.
Um ano depois, tendo passado até por um grave motim, Putin faz piada de mau gosto sobre a inflação do ovo em seu país e volta às bravatas usuais de que só haverá paz na Ucrânia se Kiev aceitar ser desmilitarizada e renunciar à pretensão de tornar-se um país do clube bélico ocidental, a Otan.
O russo não está perto de ditar termos, mas sua posição é amplamente confortável, ao contrário da do rival, Volodimir Zelenski.
O ucraniano apostou tudo numa contraofensiva bancada por novas armas e treinamento ocidentais, iniciada em junho, e fracassou no intento de cortar a ligação terrestre entre a Rússia e a Crimeia, anexada em 2014, por meio das áreas ocupadas no sul e leste do país.
O jogo de culpas já começou, com desavenças públicas entre Zelenski e seus generais, porém o substrato que importa é o abalo crescente no apoio dado pelo Ocidente.
Um dos motivos é a conta: até outubro, estima-se em R$ 1,2 trilhão, pouco menos que o PIB ucraniano em 2022, a ajuda dada ao país em guerra para se defender e atacar.
Maior apoiador, o americano Joe Biden enfrenta a oposição republicana de olho na Casa Branca, que barrou até aqui um pacote de ajuda que chega a R$ 300 bilhões no próximo ano para Zelenski.
O argumento do veto, de resto político, é a falta de retorno do investimento. O ucraniano foi até Washington implorar por ajuda, sem sucesso até aqui. Biden disse que seguiria apoiando, mas que o dinheiro vai acabar logo.
Some-se a isso o mau humor na Europa, personificado na resistência da Hungria em liberar um pacote de ajuda militar a Kiev no âmbito da União Europeia e na eleição de governos hostis ao apoio militar na Eslováquia e na Holanda.
A guerra completará dois anos em fevereiro, e Biden parece certo ao vaticinar que o veto do Congresso dará a Putin o maior presente de Natal que ele poderia querer.
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