Conspiracy theories are especially well accepted by far-right hosts
It's elementary, dear friend. It surprises me that you did not know. Hillary Clinton commands an organization that practices pedophilia, conducts child trafficking and carries out demonic rituals. The group’s headquarters is in a basement in a pizzeria in Washington, and it makes sense that it’s in a dining establishment, as within its walls, the group revels in feasts in which the main course is the flesh of their victims. Clinton’s husband and Barack Obama are involved and of course, and guess who else? George Soros, you said? Yeah, that one's easy. The group includes Oprah Winfrey and Tom Hanks, but there's more. No, you`ll never guess. The Dalai Lama is in on it. Want to know who else? Pope Francis!
It's elementary, smart reader. This is one of the gems of the “conspiracy theory” genre, which has been boosted to new heights through Facebook, Twitter and other social media networks. “Pizzagate” as it's known, is old. It dates back to the 2016 American election and might even have been considered fun, had a man not unloaded his rifle in the restaurant that hosted those pedophiles last December. More recently, QAnon has come to light, with “Q” being the group’s mysterious informant and “Anon” being an abbreviation of “anonymous.” QAnon inherited from Pizzagate the theory that the Democratic Party, alongside Hollywood actors and world leaders, are involved in pedophilia, cannibalism and a child trafficking network. To bring down this gang, generals in high places have mobilized to put Donald Trump in the White House. It will be worth the wait. One day, under Trump's command, a massive operation will arrest the guilty and expose the evidence of their crimes.
Conspiracy theories are especially well accepted by far-right hosts. Hitler called upon the fake "Protocols of Zion" to denounce a Jewish conspiracy to rule the world. The combination of the pandemic, racial protests and the election in the United States was a remarkable gift to QAnon. Under the organization’s umbrella, without suffering any consequences from the pedophile theory, various subtheories emerged, involving one about vaccines, chloroquine, Black Lives Matter and countless other topics. According to Kevin Rose, a technology columnist for The New York Times, QAnon followers are spread throughout Facebook and Twitter and other similar platforms, numbering in the hundreds of thousands. The movement’s last feat was bringing ideas from the internet's underworld to real-life politics. One of its enthusiasts, Marjorie Greene, won the Republican primary in a district in Georgia and will run for a seat in the House of Representatives. “Congratulations to future Republican Star Marjorie Taylor Greene,” Trump celebrated.
”Q” is described as a high-ranking person in Washington. Q’s internet messages are encrypted, and Q’s groups of supporters work tirelessly to decipher that content. The groups are also very attuned to Trump’s signals. On the day he said, “calm before the storm,” these people concluded that attacks against the pedophiles were imminent. From one point of view, QAnon is an internet game, involving a multitude of players. From another angle, QAnon is the “birth of a new religion,“ as reported by The Atlantic. By no means is QAnon innocent; the FBI sees it as a potential domestic terrorist threat. Through cynicism and cleverness, Trump tries to further his own goals. When asked about the movement, he replied: “I’ve heard these are people that love our country.” When asked if he endorsed the pedophile network theory, he remarked: “If I can help save the world from problems, I am willing to do it.” The president presents himself at the electoral duel, armed with a robust arsenal of lies, mystifications, tricks and poisons.
Yet to be mentioned, my perceptive reader, is that the madness has come to Brazil. As recalled by a recent article from O Estado de S. Paulo, during a pro-Bolsonaro rally on June 21 in Brasilia, one could see posters with the letter “Q” and others with the warning “Pizzagate is real.” An adaptation of the American classic has spread on social media, denouncing the involvement of ministers from the Brazilian Supreme Court in orgies sponsored by the spiritual medium Joao of God.
The fact that lunatics are in power and that they are supported by other lunatics is nothing new in Brazil or the U.S. They may be entertaining but they are dangerous, and more will remain, both in Brazil and the U.S. if Trump wins the election. In the American polls, this November, the destiny of Brazil, more than ever, will also be at risk.
Ao império de “Q” Teorias de conspiração encontram especial acolhida nas hostes da extrema direita
Elementar, cândido amigo. Surpreende-me que você não soubesse. Hillary Clinton comanda uma organização que pratica a pedofilia, faz tráfico de crianças e cumpre rituais demoníacos. A sede do grupo fica no porão de uma pizzeria em Washington, e vem bem ao caso que seja numa casa de pasto, pois em suas dependências o grupo se refestela em comilanças nas quais a atração é a carne das vítimas. O marido dela e Obama estão metidos na trama, claro, e adivinhe quem mais? George Soros, você disse? Sim, esse é fácil. De Oprah Winfrey e Tom Hanks também nem precisaria falar, mas tem mais. Não, você nunca adivinharia. O dalai-lama, meu caro, está nessa. E quer saber quem mais? O papa Francisco!
Elementar, inteligente leitor. Esta é uma das pérolas do gênero conhecido desde sempre, e impulsionado às alturas nestes tempos de Facebook, Twitter e similares, chamado “teoria de conspiração”. O “Pizzagate”, como é apelidado, é velho. Data da eleição americana de 2016 e podia até ser considerado divertido, se um homem, em dezembro daquele ano, não tivesse descarregado seu rifle contra o restaurante que abrigaria os pedófilos. Mais recentemente surgiu o QAnon — “Q” como identicador do misterioso informante do grupo, “Anon” como abreviação de “anônimo”. O QAnon herdou do Pizzagate a teoria do envolvimento de figurões do Partido Democrata, atores de Hollywood e altas autoridades mundiais numa rede de pedolia, canibalismo e tráco de crianças. Para desbaratar essa quadrilha, generais em altos postos articularam-se para pôr Donald Trump na Presidência. Não se perde por esperar. A um sinal de Trump, um dia uma operação de grande envergadura prenderá os culpados e exporá as provas de seus crimes.
Teorias de conspiração encontram especial acolhida nas hostes da extrema direita. Hitler invocou os falsos Protocolos de Sião para denunciar uma cabala judaica pelo controle do mundo. A confluência, nos Estados Unidos, de pandemia, protestos raciais e eleições foi para o QAnon o que se chama de sopa no mel. Sob o guardachuva da organização, sem prejuízo da teoria dos pedófilos, surgiram subteorias a envolver vacina, cloroquina, Black Lives Matter e incontáveis outros temas. Segundo Kevin Roose, colunista de tecnologia do The New York Times, seus adeptos, espalhados pelo Facebook, Twitter e similares, se contariam em centenas de milhares. A última proeza do movimento é que, do submundo da internet, avança para a política real. Uma sua entusiasta, Marjorie Greene, ganhou a primária num distrito da Geórgia, e disputará uma vaga na Câmara dos Representantes. “Ela será uma futura estrela do Partido Republicano”, festejou Trump.
“Nas urnas americanas, a sorte do Brasil, mais que de outras vezes, estará em jogo”
“Q” é descrito como uma pessoa dos altos escalões de Washington. Suas mensagens pela internet vêm em linguagem cifrada, e os grupos de apoiadores empenham-se em decifrá-las. Os grupos também atentam aos sinais de Trump. Num dia em que ele falou em “calma que precede a tempestade”, concluíram que o ataque aos pedófilos era iminente. Visto de certo ângulo o QAnon é um jogo de internet, a envolver uma multidão de praticantes. Visto de outro, é “o berço de uma nova religião, como escreveu a revista The Atlantic. Em nenhum caso é inocente; o FBI vê nele uma ameaça de terrorismo doméstico. Trump, entre o cinismo e a esperteza, tenta conduzir a água para o seu moinho. Perguntado sobre o movimento, respondeu: “Ouvi dizer que são pessoas que amam nosso país”. Questionado se endossava a tese da rede de pedófilos, saiu-se com: “Se eu puder ajudar a salvar o mundo de problemas, estou disposto a isso”. O presidente apresenta-se ao duelo eleitoral armado com um robusto arsenal de mentiras, misticações, trapaças e venenos.
Falta dizer que a maluquice — elementar, perspicaz leitora — já chegou ao Brasil. Em manifestação bolsonarista do dia 21 de junho em Brasília, segundo lembrou reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, viam-se de um lado cartazes com a letra “Q” e de outro a advertência “Pizzagate é real”. Uma adaptação do original americano espalhou nas redes denúncias de envolvimento de ministros do STF em orgias patrocinadas pelo médium João de Deus. Que lunáticos estão no poder, apoiados por lunáticos, no Brasil como nos EUA, não é novidade. Podem divertir, mas são perigosos, e mais carão, aqui e lá, se Trump vencer a eleição. Nas urnas americanas, em novembro, a sorte do Brasil, mais que de outras vezes, também estará em jogo.
This post appeared on the front page as a direct link to the original article with the above link
.