Meeting With Condoleeza Rice in Bahia, Brazil


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Condoleezza Rice diz que há muito tempo já queria ter vindo à Bahia. “Razões pessoais”, afirmou, com um sorriso que muitos descrevem como simpático, e é mesmo. Ela nunca parece ter perdido o ar de um professor de alto nível acadêmico disposto a ser atencioso em relação aos alunos.

É assim, em geral, que ela defende pontos de vista que muita gente – especialmente seus colegas de mundo acadêmico – cosidera completamente indefensáveis. A guerra no Iraque, por exemplo. Ou a idéia de que a administração Bush NÃO venha a ser considerada como uma das piores das últimas décadas.

Ela é uma grande leitora de história e claramente colocou-se do lado dos que acham que o tempo lhe dará razão (eu quase fiz a piada com Fidel Castro – a da história me absolverá – mas não era o caso de ser sarcástico).

Condi gosta de um embate intelectual, e deixou isso bem claro numa hora de conversa (“off the records”) com um grupo pequeno de jornalistas, aqui em Salvador.

Combinado é combinado, a regra do jogo tem de ser respeitada (é assim no Brasil e no mundo inteiro), mas ninguém precisa se preocupar: Condi é uma dessas personagens do mundo político internacional cuja expressão de idéias em público coincide quase milimetricamente com o que diz em “off”. Ou seja, ela não xinga Chávez em particular, não diz que a guerra do Iraque é mesmo um desastre ou que Bush estragou uma boa parte da política externa americana (se bem que topou uma aposta para daqui a dez anos, para saber quem tem razão – ela, ou seus críticos).

Encantada com uma fitinha vermelha do Senhor do Bomfim amarrada no braço, ficou apenas surpresa quando lhe disseram que a tal fita não pode ser tirada nem quando fica suja e esfarrapada depois de muito banho. “Vai ficar boa com o vestido que vou usar hoje a noite”, comentou, com seu sorriso sempre cativante.

Todos que lidaram com Condi, americanos ou não, destacam sua suavidade, simpatia e um jeito muito simples de se comportar. De fato, o contraste é ainda maior se a gente se lembra (e sou veterano o suficiente) de figuras como James Baker 3, ou a própria Madeleine Albright. Condi é um traço da América (”ops, olhe só, até desse nome para todo o continente nos apropriamos”, diz ela, como se pedisse desculpas) que ela acha que todo mundo deveria ver.

Um governo, como diz ela, que quadruplicou a ajuda para a África, dobrou a ajuda para a América Latina, esforça-se pela promoção da justiça social na região, não se importa se os governos latino americanos são de direita ou de esquerda (”tem de ser democráticos”). Mas um governo, dizemos nós, que não é percebido assim, e não só na América Latina.

Ela nem parece surpresa. Bem-humorada, faz questão de transmitir sobretudo certezas e aprendeu há muito tempo que não deve entrar em perguntas especulativas num grupo de jornalistas – muito menos com quem não conhece. Condi apela sempre para o emotivo no interlocutor (“já fui a uma tenda na África na qual as mulheres contavam como foram estupradas quando tentavam ir buscar água”). De pessoal, só uma resposta de sorriso aberto, como sempre. Não, ela não quer mais saber de governo. Pelo jeito chegou a Bahia na hora certa.

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