Obama and McCain

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Para mal – e para bem – dos nossos pecados, ambos são americanos e contra isso nada se pode. Começa por quem não for americano não ter direito a votar em Novembro, na escolha entre os dois – grande injustiça porque o que o quadragésimo quarto presidente dos Estados Unidos vier a decidir poderá afectar mais estrangeiros do que compatriotas seus. Que o digam os sérvios do tempo de Bill Clinton e os iraquianos que George Bush passará em Janeiro para a tutela do seu sucessor. Ou que o digam franceses, italianos, belgas, holandeses, ingleses, etc., até alemães, libertados da opressão ou da ameaça de Hitler em 1945. Sem esquecer, entalada entre a Segunda Guerra Mundial e a Nova Ordem Internacional, a Guerra Fria que os americanos ganharam, levando os europeus à boleia. O mundo está a mudar muito depressa mas palpita-me que, pelo menos por mais uns vinte anos, fora dos Estados Unidos se continuará a lamentar não poder ter voz na escolha do inquilino da Casa Branca, que permanecerá a pessoa mais poderosa do mundo.

Sobre a preferência exterior desta vez não há dúvidas. Sondagens numa dúzia de países da União Europeia são semelhantes e inequívocas: de ingleses a gregos, se fossem os europeus a votar, Barack Obama seria o próximo presidente dos Estados Unidos. Se fossem os paquistaneses, também. Há semanas, Fidel Castro escreveu no jornal do partido que embora ainda longe do ideal, Obama seria preferível a qualquer dos outros. Não ouvimos ainda de Amahdinejad, mas não me espantaria que de lá viesse encómio. E, na China, num inquérito por Internet a que na quarta-feira já tinham respondido vinte mil pessoas, 55% achavam que ele ia ganhar, 32% achavam que não e 13% achavam a pergunta difícil. A América precisa de vez em quando de um chefe que lhe arrebate a alma. No século XX calharam-lhe Roosevelt, Kennedy e Reagan. Agora, depois de Nine/Eleven e das aldrabices de Bush, precisa doutro, e McCain para isso não dá. O problema é que Obama talvez dê demais, isto é, a sua eloquência é magnífica mas terá os pés bem firmes na terra (como Roosevelt, Kennedy e Reagan tinham)?

Entretanto, para lá de inspiração, há diferenças e semelhanças importantes. McCain quer vitória militar no Iraque; Obama quer negociar – se o fizesse com mão segura, Obama seria melhor para a América e para o mundo. Enfeudado aos sindicatos, Obama é proteccionista; McCain é pelo comércio livre – mais proteccionismo americano iria fazer muito mal à América e ao mundo, por isso McCain seria melhor. Quanto a semelhanças, ambos se entusiasmam com a ideia de uma grande organização internacional, só de democracias, que desse nova ordem moral ao planeta. Projecto que iria desacreditar as Nações Unidas, enfraquecer a NATO e soprar sobre as mesas de negociação internacional uma dose asfixiante de correcção política. Aí, ambos são péssimos mas de fora nada se pode fazer. Talvez outros americanos – felizmente há alguns – convençam o vencedor a mudar de ideias.

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