Edited By Annie Moulton
Obama, o grande ausente
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A crise global foi discutida no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, sem a participação do ator principal, o presidente dos Estados Unidos. Ficaram sem resposta questões importantes sobre o comércio internacional, um dos principais motores do crescimento, e sobre a coordenação de políticas antirrecessão.
Chefes de governo de grandes países, como Gordon Brown, do Reino Unido, Vladimir Putin, da Rússia, Wen Jiabao, da China, Angela Merkel, da Alemanha, e Taro Aso, do Japão, bateram o ponto em Davos, ao lado de ministros importantes e de altos funcionários internacionais, como o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Do governo americano apareceu somente a assessora presidencial para relações intergovernamentais e contatos públicos, Valerie Jarrett, velha amiga do casal Barack-Michelle Obama.
Há duas décadas a senhora Jarrett trabalhava para o prefeito de Chicago. Nessa ocasião ela conheceu Michelle Robinson e seu namorado, Barack. Estavam apaixonados e queriam mudar o mundo, segundo informou num longo discurso a enviada especial da Casa Branca. O resto de seu pronunciamento foi uma repetição das opiniões e promessas de seu chefe e amigo, com referências muito especiais a seus compromissos de trabalhar pela conservação ambiental e pela paz no Oriente Médio. Nenhuma palavra concreta foi pronunciada sobre ação econômica internacional e muito menos sobre comércio e sobre a Rodada Doha.
Horas antes desse discurso, o diretor-geral da OMC havia informado, num encontro com jornalistas, não ter tido ainda nenhum contato com o governo Obama. Diplomaticamente, procurou amaciar essa informação: afinal, ponderou, o governo é novo e o nome indicado para ser o negociador comercial dos Estados Unidos ainda nem foi aprovado pelo Congresso. Mas o indicado, Ron Kirk, ex-prefeito de Dallas, não tem experiência no setor e é vagamente descrito como favorável ao livre comércio.
De Washington, a única notícia concreta sobre política comercial, nesta semana, foi negativa. O pacote de estímulo fiscal de US$ 819 bilhões aprovado pela Câmara tem uma cláusula restritiva: ficará sem acesso ao dinheiro quem realizar obras de infraestrutura com ferro ou aço importado. O mundo terá de engolir “pelo menos provisoriamente” essa decisão, disse em Davos o senador Brian Baird, do partido de Obama.
Talvez não se possa, a partir desses fatos, formular conclusões seguras sobre como será a diplomacia econômica do novo governo americano. Com o país atolando na recessão e o sistema financeiro ainda sem mostrar o fundo do seu poço, é compreensível a prioridade atribuída pelo presidente à agenda interna. Mas essa agenda não envolve todo o governo. Além disso, ele teve tempo suficiente, desde a campanha, para definir uma orientação econômica internacional. Não se poderia esperar menos que isso de um aspirante ao governo da economia mais importante do mundo.
De toda forma, com ou sem a participação de representantes de peso do governo americano, seria difícil, nos poucos dias da reunião de Davos, propor soluções para a crise global. Essa participação seria útil, no entanto, para a definição de possíveis ações coordenadas. Desde o agravamento da crise, em setembro do ano passado, ações mais ou menos coordenadas – como a capitalização dos bancos – foram adotadas pelos governos das maiores potências. Não evitaram a recessão, mas serviram para atenuar o impacto imediato dos problemas financeiros.
A ação coordenada continua sendo fundamental. Um dos desafios mais urgentes é o restabelecimento do crédito. Depois da farra do subprime e de tantos financiamentos concedidos sem critério, os bancos se fecharam, como se pretendessem, de um dia para outro, passar da orgia ao recato extremo. Essa mudança desmesurada apenas contribui para agravar a recessão, advertiu em Davos o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet. Esse é um dos vários temas urgentes na pauta da cooperação entre autoridades. Nesse caso, como no do comércio, a posição do governo americano é fundamental.
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