Monstruosidades
NOVA YORK – Há alguns anos, conversava sobre a cidade com a moça que cortava meu cabelo. Ela se dizia cheia de Nova York e que se mudaria em breve para Miami.
Tudo o que tinha no apartamento caberia em uma espécie de container com rodas da U-Haul que alugaria. Engancharia aquilo no carro e ia embora. Finalizava um contrato de aluguel de imóvel na Flórida. E emprego? Não era problema. Pensaria nisso lá.
Corriam os anos de “pleno emprego” nos EUA. Durante quase toda a segunda metade do governo Bill Clinton (1993-2001), o desemprego estacionou entre 4% e 5%. Trabalho era questão secundária.
Na semana passada, ficamos sabendo que o desemprego americano subiu para 10,2% em outubro, o maior em duas décadas e meia. Mais uma leva de 190 mil demitidos no mês. Nunca desde o pós Segunda Guerra foi tão difícil arrumar trabalho e planejar o futuro nos Estados Unidos.
Isso aconteceu violentamente no mercado de trabalho mais desregulamentado entre as grandes economias. Há menos de 18 meses, o desemprego era a metade do atual.
No esquema norte-americano, se existe um sindicato por trás é até possível resguardar direitos e negociar períodos de ausência remunerada. Mas milhões têm de deixar de receber se quiserem descansar.
As pessoas também são demitidas sumariamente, sem compensações ou multa, o que não ocorre no Brasil no caso do “sem justa causa”. No ambiente americano, trabalho é custo. Recessão, “justa causa”. Daí a velocidade dos cortes.
Com o aumento do desemprego, a produtividade dos que ficaram deu um salto. Entre julho e setembro foi a maior alta em 60 anos, quando essas estatísticas passaram a ser compiladas.
Isso é o que explica o fato de os EUA terem crescido 3,5% em termos anualizados no terceiro trimestre, apesar do desemprego em alta. No período, a produtividade saltou 9,5%.
Em qualquer recessão o mercado de trabalho é o último a se recuperar. Não será diferente. O problema, desta vez, é que só o setor público está gastando e empregando. O resto do país (que tecnicamente saiu da recessão com o PIB positivo do terceiro trimestre) vai na direção oposta.
Desde o início da recessão (dez.07), 8,3 milhões de pessoas foram demitidas nos EUA, grande parte na indústria e construção civil. No período, a área de saúde, muito dependente de verbas públicas, foi a que mais contratou: 597 mil pessoas.
No marketing, o governo Obama infla ainda mais os números. Diz que seu programa de estímulo fiscal de US$ 787 bilhões ajudou a criar ou a manter 650 mil empregos neste ano. O site oficial do plano diz vagamente, por exemplo, que a compra de um único cortador de grama de US$ 1.050 para um cemitério público no Arkansas teria ajudado a manter ou a criar 50 empregos…
Se ainda procuramos sinais de recuperação sustentável nos EUA, eles ainda não emergiram do monstruoso desemprego.
Typo
There were 190 million people unemployed that month.
That should be 190 Thousand people…
Typo