Este ano, o último dos oito de Lula na Presidência, não está de brincadeira. Começou com terremoto no Haiti e no Chile e aguaceiro e mortes em Angra dos Reis e São Paulo. Agora, avança com uma agenda internacional intensa em Brasília, enquanto o último Datafolha deflagra a campanha eleitoral.
Hoje, quarta-feira, 03/03, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chega a Brasília com cobranças no sobre a atuação brasileira no plano internacional e boa disposição para acertar acordos amigáveis no plano bilateral. Depois, virão o primeiro-ministro da Itália, o ministro de Relações Exteriores da Alemanha e os reis da Suécia, além do diretor-geral da AIEA, a agência de energia atômica. Obama deve vir ainda no primeiro semestre, e Lula vai ao Irã em maio.
Hillary se encontra com Lula e o chanceler Celso Amorim para discutir as divergências quanto ao programa nuclear do Irã, pois os EUA querem impor novas sanções da ONU e isolar ainda mais o país, enquanto o Brasil insiste em negociação, para poder cobrar compromissos de Mahmoud Ahmadinejad para a paz e a não-bomba.
Os EUA acham que o Brasil está sendo muito bonzinho e perdendo tempo. O Brasil acha, como me disse Amorim ontem, que a radicalização só vai prejudicar o povo iraniano, sem melhorar o ânimo de Ahmadinejad. Se mexer algo, vai ser para pior: ele pode responder radicalização com mais radicalização.
Mas EUA e Brasil também acertam visitas anuais para checar o andamento de acordos e memorandos conjuntos. Além dos antigos, estão fechando mais três. Um na área de gênero, outro na de clima e um terceiro para atuação bilateral para a reconstrução do Haiti e para a construção de países da África. Algo para adocicar a imagem internacional norte-americana e para fortalecer a do Brasil.
No plano interno, o ano é campanha, campanha, campanha. O Datafolha acendeu o sinal amarelo na oposição, que resolveu sair da toca e das secretarias para armar os palanques para o tucano José Serra. Ele tem agora vários desafios. O mais difícil é convencer Aécio Neves de engrossar a chapa como vice e trazer os votos de Minas. Os outros são acalmar os aliados e dirimir dúvidas quanto à sua disposição de lutar. Toda hora continuam saindo versões de que Serra pode desistir. Nada mais deletério para uma candidatura.
Do lado da petista Dilma, o clima é o oposto: comemoração e até um esforço para evitar um salto alto precipitado. A palavra de ordem é manter o ritmo, sem reduzir nem apressar, e acomodar os interesses peemedebistas nos Estados para, assim, garantir o precioso tempo de TV do PMDB.
Pelo Datafolha, Dilma aproveitou bem a intensa exposição positiva no Carnaval, no congresso do PT, na rotina das TVs, rádios e jornais, enquanto Serra sofreu os efeitos da não campanha e da fase bastante negativa do aguaceiro de São Paulo. Dilma viveu ótimos momentos. Serra, atolou nas chuvas. Conclusão: ela subiu 5 pontos, ele caiu 5, e a diferença entre eles está em 4 pontos, o que, na prática, caracteriza empate técnico.
O maior problema para a oposição, porém, não é esse corte em si, mas o cruzamento de tendências. Como bem disse Alberto Goldman, braço-direito de Serra, é “heróico” que o tucano venha se mantendo solidamente na dianteira, apesar de tudo (inclusive da decisão dele próprio de não fazer campanha). Mas o fato é que Dilma está em ascensão, Serra em queda. E ela tem Lula. A expectativa é de que já na próxima pesquisa ela venha a superar Serra. Isso desmobiliza os aliados e os eleitores, gera brigas internas, dificulta a estratégia.
Quanto a Marina Silva, continua estável, sem grandes emoções para mais ou para menos. Quanto a Ciro Gomes, não tem para onde correr e joga ao vento a possibilidade de ser vice de Aécio, o que só serve para uma coisa: enfraquecer Serra. Desse jeito, Ciro perde espaço no governo e não ganha na oposição. Significa limbo.
O ambiente está agitado, e o beijinho de Serra e Dilma, na primeira páginda da Folha de hoje, tem uma simbologia positiva, de elegância e civilidade. O problema é a simbologia se transportar para a prática. Aí é que são elas.
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