A imigração está de volta ao topo da agenda política norte-americana. Na semana passada, Jan Brewer, governadora do Arizona, assinou a dura legislação do estado sobre a imigração ilegal. O Arizona tem seis milhões e meio de pessoas e cerca de quinhentos mil imigrantes ilegais. Em Phoenix, esta situação é insustentável do ponto de vista político e social. Como era de esperar, a legislação ali aprovada deu origem a um forte debate.
O Sudoeste dos EUA não é, todavia, a única região do país interessada no problema da imigração. Em Washington, a Casa Branca, Harry Reid e Nancy Pelosi – os líderes democratas no Senado e Câmara dos Representantes – surpreenderam toda a gente com o anúncio de que querem reformar a legislação sobre a imigração até ao fim do ano. O que é que o debate americano sobre a imigração mostra acerca da política e da evolução dos EUA?
Em Novembro de 2008, dois terços dos latinos votaram a favor de Barack Obama. Durante a campanha eleitoral, Obama prometeu-lhes mudar a maneira como as fronteiras dos EUA são policiadas e a forma como os imigrantes são tratados quando chegam ao país. Os latinos e os partidários da reforma da imigração têm relembrado a Obama as suas promessas. Até à semana passada, o problema da Casa Branca era uma agenda legislativa muito intensa no Congresso – reforma do sistema financeiro, negociação da legislação sobre a energia e as consequências do aquecimento global, a substituição do juiz John Paul Stevens no Supremo Tribunal.
Duas coisas alteraram o cálculo político do Presidente e dos líderes democratas no Congresso. A primeira é o custo político a pagar pela legislação Waxman-Markey sobre a energia e o aquecimento global num ano de eleições. Esta legislação já foi aprovada pela Câmara dos Representantes, mas a sua aprovação pelo Senado este ano é vista na Casa Branca e nos gabinetes democratas como um obstáculo à manutenção do controlo do Congresso no Outono. Privilegiar agora a reforma da imigração adia a aprovação e aplicação da Waxman-Markey.
A segunda é o papel eleitoral dos latinos numa série de estados. O caso mais claro é o Nevada, o estado de Harry Reid. Para ter uma hipótese decente de conseguir a reeleição, o líder da maioria democrata no Senado precisa que os latinos representem pelo menos 15% do eleitorado. Dar prioridade em termos retóricos e políticos à reforma da imigração é o caminho mais rápido para os democratas manterem o apoio da maioria dos latinos. Todos sabem que as hipóteses de aprovar esta reforma em 2010 são nulas. Os democratas conservadores e a maioria dos republicanos são contra. A sociedade americana divide-se. O que interessa a Obama, Reid e Pelosi é serem vistos a fazer o esforço e separar ainda mais os republicanos dos latinos.
O debate sobre a imigração é uma coisa paradoxal. Por um lado, é um debate emocional onde reina a hipocrisia e a táctica política. Por outro, é um debate sobre o futuro do país. Como Joel Kotkin mostra no seu recente livro “The Next Hundred Million. America in 2050” (Nova Iorque: Penguin Press, 2010), o futuro da América será diferente do da maioria dos países europeus.
Nos próximos 40 anos, os EUA verão a sua população aumentar em cem milhões. Praticamente todos os países ricos e desenvolvidos farão a viagem inversa. Portugal, um país onde se recebe mais pelo nascimento de um vitelo do que pelo de uma criança, é um bom exemplo da trágica tendência. A fertilidade da sociedade, a importância do triângulo religião-família-crianças e a capacidade do país para atrair e integrar imigrantes vindos de todo o mundo explicam o extraordinário dividendo demográfico americano: mostra uma sociedade optimista em relação ao seu futuro.
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