A Religion Called Apple

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A Apple se transformou praticamente em uma religião nos Estados Unidos e mesmo em outras partes do mundo. Seus clientes amam a empresa e não gostam de comprar nada dos concorrentes. Eles demonstram uma fidelidade rara em outros setores da economia, e gastam o quanto for necessário para ter o último lançamento da que, há algumas semanas, se transformou a companhia na com maior valor de mercado na área de informática, superando a gigante Microsoft.

Da mesma forma que ocorreu quando foi lançado o iPad alguns meses atrás, os seguidores da Mac invadiram as lojas para comprar o novo iPhone 4. Quando um modelo deste aparelho foi encontrado em um bar de San Francisco, passou a ser estudado como um “graal” pelos especialistas em informática. Imediatamente, os religiosos da Apple já sonhavam em comprar este novo produto. Um verdadeiro seguidor possui um iPhone, iTouch, Apple TV, Mac Book Air e, claro, o iPad.

Como seitas religiosas, a Apple tem o seu símbolo na maçã que pode ser o equivalente da cruz ou da estrela de David. Os fanáticos pela companhia se identificam ao ver esta marca nos seus aparelhos e alguns chegam a tatuá-las. “Nós somos usuários de Mac, e isso significa que temos valores comuns”, disse o psicólogo especializado em marcas David Levine em artigo na revista Wired.

A Apple também tem o seu guru na figura de seu fundador e líder Steve Jobs. Nos anos em que ele esteve fora da empresa, a companhia perdeu importância. Seu retorno, há pouco mais de uma década, fez a Apple alterar a forma como o mundo ouve música, fala ao telefone, navega na internet e, com o iPad, como lemos livros, jornais e revistas.

Seu perfil também se difere de outros magnatas da internet, como Bill Gates ou os donos do Google, com imagem de nerds da informática. Jobs é visto como descolado pelos jovens, com sua blusa de gola rolê preta as calças jeans. Nem mesmo o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, de apenas 26 anos, consegue atrair a juventude como Jobs. A sua apresentação no lançamento do iPad, em janeiro deste ano, conseguiu o mesmo espaço nos jornais que o discurso do Estado para a União, de Barack Obama, no mesmo dia.

“O fundador da Apple, Steve Jobs, é visto como uma figura religiosa, uma espécie de Krishna, do Hinduísmo. Ele lutaria contra o ‘Império do Mal’, da Microsoft, e seu líder, o ‘Anti-Cristo’ Bill Gates”, escreveu o acadêmico Russell Belk no seu estudo “O Culto da Macintosh”, como são chamados os computadores da Apple, geralmente apelidados de Mac.

Não faltam nem os templos para a Apple, onde as pessoas podem ver os produtos da empresa como se fossem imagens religiosas, ainda que não os comprem. Seus vendedores seguem sempre o mesmo padrão e uniforme que lembra as vestimentas de Jobs. Seriam como padres e freiras recebendo fiéis. Em Nova York, será mais fácil um turista ou mesmo um morador indicar a loja da Apple mais próxima do que uma igreja ou sinagoga. Sempre de vidro, elas se localizam em pontos estratégicos da cidade. A mais antiga, considerada a catedral da Apple, aberta 24 horas e lotada mesmo às 4h da manhã fica na nobre esquina da Quinta Avenida com a Central Park South, diante do tradicional Hotel Plaza. Duas outras estão em bairros da moda, como o Soho e o MeatPacking. A quarta, inaugurada há alguns meses, fica ao lado do Lincoln Center, considerado o maior centro cultural dos Estados Unidos.

Jobs fundou a Apple em 1976 e foi responsável, junto com seus sócios, por fabricar o primeiro computador pessoal. No meio dos anos 1980, brigou com a direção e deixou a empresa, voltando mais de uma década depois. Voltou em 1997 e iniciou uma revolução na Apple que afetou setores como a música, a telefonia e, claro, a internet.

Antes de seu retorno, a tendência nos computadores e aparelhos de informática era fabricar produtos com uma série de botões e funções complicadas para os consumidores. Como Coco Chanel na moda, ele optou pelo minimalismo. E veio a revolução com o iPod. Em um produto de apenas um botão, ele conseguiu permitir que as pessoas levassem centenas ou mesmo milhares de músicas. Em seguida, foi a vez do iPhone e, agora, há o iPad, um computador sem teclado físico.

Enquanto a Microsoft, segundo analistas, parou no tempo, a Apple não para de inovar, batendo recordes de patentes. Aliás, jornalistas da área de informática, que alguns anos atrás se focavam no Media Lab do MIT para saber qual seria o próximo avanço tecnológico, hoje se debruçam sobre os produtos patenteados pela Apple para saber como será o futuro daqui algum tempo.

O Google, diferentemente da Microsoft, tem inovado. Sua plataforma de navegação na internet, conhecida como Android, recebe elogios de especialistas e muitas vezes é opção de consumidores que não seguem a “religião” Apple. Em centros urbanos distantes de cidades da costa como Boston e San Francisco, os aparelhos que utilizam o Android são bem mais populares do que o iPhone. O BlackBerry, por sua vez, dominou o mercado corporativo pela facilidade de enviar e receber emails. Mas funcionários de bancos e escritórios de direito em Nova York costumam usar o BlackBerry para fins profissionais e o iPhone pessoalmente.

Na internet, há sites e blogs usando termos como “religião” e “culto” para descrever a Apple. Em um post em seu blog “The Cult of Apple”, Leander Kahney, afirma que usar produtos da empresa é um estilo de vida. Os seguidores da reliião Apple “não conseguem sentar em um café e abrir um Dell. Ficam envergonhados”, escreveu. Seria como os motoqueiros da Harley Davidson sendo obrigados a circular em uma moto comum.

Claro, o grande risco é saber quem será o sucessor de Jobs na Apple. Sua saúde é delicada e a pergunta de todos é como esta espécie de Dalai Lama da informática poderia ser substituída sem perder os fiéis.

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