Gingrich/Palestinos
Newt Gingrich, a estrela da corrida presidencial republicana, tem preocupações bizarras e dispara petardos retóricos. Como ele está em evidência, o que fala (e não deveria falar) vira sensação. Vou deixar de lado a obsessão gingrichiana com um ataque com pulsos eletromagnéticos contra os EUA e me concentrar em uma explosão verbal que me deixa mais `a vontade para palpitar. Gingrich disse que os palestinos são um “povo inventado”. Existe a previsível fúria da liderança palestina e de intelectuais de esquerda (e críticas até de Mitt Romney e outros candidatos republicanos) com esta explosiva declaração.
Gingrich está até historicamente correto sobre a invenção (politicamente é outra história). O nacionalismo palestino é uma causa recente. Existem setores que simplesmente negam a legitimidade do nacionalismo palestino, mas é possível remontá-lo pelo menos até os anos 70. Até então, havia muito mais a causa antiisraelense de países árabes e os refugiados palestinos eram massa de manobra dos inimigos de Israel e até arma de genocídio.
Aliás, a tão citada Resolução 242, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, depois da Guerra dos Seis Dias em 1967, não faz referência aos palestinos, mas a refugiados. Ironicamente, antes da partilha em 1947 do território britânico que previamente pertencera ao Império Otomano, a palavra palestina se referia ao judeus que viviam na Palestina. Os árabes eram chamados de árabes ou de árabe-palestinos. E entre a independência de Israel em 1948 e a guerra de 1967, os países árabes que controlavam a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental nunca tiveram a disposição de criar um estado palestino. Isto é apenas história.
Gingrich entra com gosto na polêmica, porque é Gingrich e quer faturar o voto dos judeus americanos que é maciçamente pró-democrata. Mas como diz Michael Kinsley, um veterano jornalista e inverterado polemista, não se pode desinventar o que foi inventado. O nacionalismo palestino é um fato estabelecido. O povo palestino quer um estado e merece ter um estado. Até amplos setores da direita israelense, a destacar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já aceitam esta aspiração.
Basta ficar com a declaração do ex-embaixador de Israel nos EUA, Zalman Shoval. Ele disse que os comentários de Gingrich podem ser “factualmente” verdadeiros ou falsos”, mas são politicamente irrelevantes (no contexto do atual jogo político do Oriente Médio). Os palestinos “se inventaram nos últimos 50 ou 60 anos como uma unidade nacional separada. A aspiração dos palestinos por uma unidade nacional e seu próprio governo são fatos com os quais devemos lidar”.
De fato, corretíssimo. O resto é Gingrich e ele que invente argumentos melhores caso um dia seja presidente (eu espero que isto nunca aconteça) e precise negociar a crise do Oriente Médio, inclusive com os representantes do povo palestino.
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