Por razões estratégicas e eleitorais, o governo Obama tenta caracterizar o retorno de suas tropas do Iraque como um sucesso na guerra que herdou de George W. Bush (que levianamente falou em vitória). Obama, na quarta-feira, em Fort Bragg, recepcionou soldados americanos que voltaram do Iraque para simbolizar o fim de quase nove anos de presença militar, em uma guerra que nunca teve o impacto emocional para a sociedade nos EUA, como o Vietnã. Nesta quinta-feira, a bandeira americana foi baixada em Bagdá e a missão militar no Iraque terminou duas semanas antes do prazo previsto no acordo com o Iraque.
Obama quer definir suas ações como uma “retirada responsável”, que vai culminar na transferência completa de soberania para o governo iraquiano de Nour al-Maliki e a sedimentação de uma aliança. Seria um recado aos americanos e ao mundo que Obama, que, como candidato era contra a guerra, como presidente soube terminá-la. Não é bem assim. Obama está mais preocupado com a retirada e não com a responsabilidade. O crédito de uma relativa estabilização cabe a Bush, com sua escalada de tropas no final de mandato e o sucesso de algumas táticas de contra-insurgência. Isto, é verdade, depois de uma invasão sob falsos pretextos das armas de destruição de Saddam Hussein, que levou à derrubada do tirano, num lance que beneficiou o vizinho Irã, o grande rival do Iraque.
Agora desponta um cenário de desestabilização. Era difícil para os americanos manterem bases no Iraque, depois da retirada das tropas de combate. O governo Maliki não é um aliado, como apregoa Obama. O empenho do xiita Maliki é apaziguar tanto americanos, como iranianos, que excercem muito influência neste país onde existe a ascendência do poder xiita, o fim da dominação da minoria sunita e a autonomia dos curdos. Violência sectária pode explodir novamente sem a presença militar americana, embora talvez não uma guerra civil em larga escala. Tudo isto num país marcado pela fragilidade: economica, política e de segurança. E vários urubus regionais estão rondando.
Além do Irã, temos o bloco de monarquias sunitas, liderado pela Arábia Saudita, e a Turquia que viola a soberania iraquiana para atacar insugerentes curdos. Obama bate na tecla que a guerra acabou. Ele disse na quarta-feira que “a guerra no Iraque vai entrar na história em breve”. A guerra acabou para o candidato a reeleição Obama. O conflito entra em uma nova fase para os iraquianos e para a vizinhança.
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