Os Estados Unidos e alguns aliados convidaram os mais altos representantes de cerca de seis dezenas de países e foram para a Coreia do Sul discutir a questão nuclear.
Nada mais urgente e apropriado, concordemos. Talvez a selecção devesse ser menos elitista porque o problema nuclear é universal. Tão universal que se algum dos países detentores de tal arma ligar a ignição poucos restaremos para contar os efeitos, isto se estivermos em condições de o fazer.
Digamos que foi uma iniciativa louvável partindo do pressuposto de que os presentes eram poucos mas bons e estariam em condições de traçar linhas de rumo para evitar que os problemas nucleares “militares” ou “civis” se transformem de vez no flagelo que ameaça a Humanidade.
Espremendo o que aconteceu, já numa avaliação a frio e liberta o mais possível de efeitos contaminadores, verifica-se que a famosa cimeira foi uma coisa de faz de conta, uma acção de propaganda e de ameaça à moda antiga que nos faz recuar aos tempos menos polidos da guerra fria. Desde a agenda às intenções e decisões, tudo errou o alvo do que era absolutamente necessário fazer nos tempos que correm.A cimeira foi um conclave em que os possuidores de bombas atómicas mais os que praticam toda a casta de malfeitorias à sua sombra – citemos os casos de Israel, Turquia, Qatar e Arábia Saudita por razões óbvias de actualidade – lançaram ameaças arrasadoras contra os que, segundo eles, querem entrar no clube. O caso de Israel é, aliás, bastante notável porque participou na reunião numa dupla qualidade: o de país possuidor e de país que diz que não possui e todos fingem que acreditam.
Os países presentes declararam-se preocupados com a utilização terrorista de armas atómicas. Vieram à superfície receios manifestados em relação à al-Qaeda e outros grupos fundamentalistas islâmicos. A preocupação soou a estranho, ou a falso, porque na cimeira participaram países que sustentam esses grupos, com destaque para a Arábia Saudita, sabendo-se que existem alianças pontuais entre esses bandos e vários patrocinadores da reunião, por exemplo na Líbia e até na Síria.
Os maiores fracassos da reunião foram, porém, os elogios à Agência Internacional de Energia Atómica, visivelmente manipulada e desacreditada, como demonstram documentos recentes. E a incapacidade para atacar de frente o problema da energia nuclear civil um ano depois da tragédia de Fukushima – reveladora de que não existem centrais nucleares seguras, por muitas simulações que se façam em computadores.
Moral da história: a cimeira da Coreia do Sul serviu para satisfazer e reforçar os detentores do monopólio da energia atómica, civil ou militar. Não deu um passo que seja no caminho da segurança nuclear mundial.
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