Há quatro anos, quando se elegeu presidente dos Estados Unidos, Barack Obama prometia “mudança”. Na convenção do Partido Democrata, em que formalmente aceitou disputar um novo mandato, Obama repetiu o slogan, mas para falar de si mesmo: “Os tempos mudaram, e eu também mudei”. Hoje, Obama revela-se bem mais modesto do que o meteoro político que derrotou os republicanos e mobilizou o país com eletrizantes promessas em 2008. Em vez de representar o “novo”, Obama diz que quer somente terminar seu trabalho – isto é, tirar os EUA da crise.
Como a ilustrar o grave momento, logo no dia seguinte ao discurso do presidente saíram os dados sobre o desemprego no país em agosto. O índice recuou de 8,3% para 8,1%, mas o número de vagas criadas (96 mil) ficou abaixo do previsto. E a redução do índice ocorreu em grande medida porque mais pessoas desistiram de procurar emprego. Já são 43 meses de desemprego acima de 8%, o período mais longo desde a Grande Depressão. Obama passou quase todo o seu mandato sob essa enorme sombra, e agora pede aos americanos que não esperem que a solução dos problemas dependa somente do poder de sua caneta. Não foi à toa que, no palanque, ele recorreu ao exemplo de Franklin Roosevelt, o presidente democrata que, segundo Obama, lidou com o colapso econômico nos anos 30 por meio de “esforço comum” e de “responsabilidade compartilhada”.
Obama admitiu que seu desempenho na administração da crise poderia ter sido melhor. É um grande contraste com o confiante presidente de outrora, que cometeu o erro de acreditar na imagem dele que fora feita por seus deslumbrados simpatizantes logo após a eleição – a de um homem talhado para fazer história como o primeiro negro a ocupar a Casa Branca e, portanto, como um político que atuaria acima das questões partidárias. Mas os republicanos, que controlam a Câmara dos Representantes, não vislumbram essa imagem. Ao contrário: eles deixaram claro, dando o tom do violento embate ideológico, que não dariam nenhum voto que pudesse favorecer um presidente apontado como “socialista”. O auge desse confronto se deu em 2011, quando os EUA estiveram à beira de um calote porque os parlamentares republicanos tentaram impedir, até o último minuto, que o governo elevasse o teto da dívida.
O clima de tensão no Congresso não deverá ser muito diferente, caso Obama seja reeleito, porque as pesquisas mostram que os republicanos podem manter sua maioria na Câmara, onde têm 241 das 435 cadeiras, e até mesmo obter o controle do Senado, onde ocupam 47 das 100 cadeiras. Em 6 de novembro, além de votar para presidente e renovar toda a Câmara, os eleitores escolherão 33 senadores – e há nada menos que 15 disputas indefinidas. A previsão é que nem democratas nem republicanos alcancem 60 cadeiras no Senado, número necessário para evitar obstruções. Ou seja: ainda que o vencedor seja o republicano Mitt Romney, ele não terá vida fácil no Congresso – mesmo na Câmara, onde teria maioria, não há garantia de sossego para o presidente republicano, uma vez que boa parte de seus correligionários o considera moderado demais.
Em vista desse cenário, Obama – que evitava responsabilizar o governo de seu antecessor, George W. Bush, pela crise econômica – resolveu assumir o discurso de confronto com os republicanos, atribuindo-lhes a paternidade dos problemas atuais. O tom foi dado por um inspirado ex-presidente Bill Clinton na convenção democrata, quando parodiou o discurso da oposição: “Nós (os republicanos) legamos a ele (a Obama) o caos total. Ele está demorando demais para arrumar a sujeira. Demitam-no e ponham a gente no poder de novo”. De fato, o autor do estrago na economia americana tem nome e sobrenome e milita no Partido Republicano. No entanto, a alternativa que Obama procura apresentar ao eleitor não vai muito além da promessa de boa vontade, o que é muito pouco ante a evidente necessidade de mais ousadia para tirar os Estados Unidos da crise.
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