O Havai fica mais perto da China do que dos Açores e está tudo dito: antes a Ásia do que a Europa. Pode ser só coincidência a América ter agora um presidente nascido tão a Ocidente, até porque Obama se limita a confirmar a aposta estratégica no Pacífico. Mas note-se que o primeiro a adivinhar que o futuro estava naquele lado foi Nixon, o único dos inquilinos da Casa Branca oriundo da Califórnia. Recorda-se da ida à China em 1972, quando esta era um dragão adormecido?
Forçados a cortar na despesa militar, os Estados Unidos desinvestem na Europa, onde a Rússia não é ameaça comparável à União Soviética. Portugal sofre com esse desinteresse, como a Alemanha ou a Itália, só que o caso das Lajes é dramático pelo peso que a sua base tem na economia açoriana.
E é mesmo tudo uma questão de dinheiro, basta ver por onde os americanos andam a fazer negócios: China e Japão são hoje parceiros bem mais importantes do que a Alemanha, o Reino Unido ou a França. As trocas comerciais dos Estados Unidos com a China valem já o triplo das com a Alemanha.
Com o dinheiro – e a China é já a segunda economia mundial – vem o poder. E se o orçamento militar chinês se fica por um quarto dos gastos dos Estados Unidos, a verdade é que cresce acima dos 10% e serve para tentar transformar as águas entre as ilhas Aleutas e o Bornéu numa zona interdita aos americanos em caso de crise.
Ninguém tem mais a perder com uma guerra no Pacífico do que a própria China. Mas os Estados Unidos fazem questão de a par da concorrência económica manter a sua superioridade militar. E por isso a atenção à Ásia, aonde Obama fez agora a sua quinta visita. Mais significativa ainda foi a ida do secretário da Defesa em junho à Tailândia, Vietname e Filipinas para discutir a reutilização de antigas bases, como a de Clarck. Afinal, para contrariar os chineses não chegarão as tropas no Japão, Coreia do Sul e Guam.
Que o mundo está a mudar é ilustrado por duas previsões recentes. Por um lado, a OCDE estima que em quatro anos a China ultrapasse os Estados Unidos como primeira potência económica. Por outro, a Agência Internacional da Energia vê os Estados Unidos a substituírem até 2020 a Arábia Saudita como primeiro produtor de petróleo. Ou seja, a China no lugar da América, a América no da Arábia!
Será preciso rever tanto os quadros de análise como quando a União Soviética morreu.Tirando pelo apoio a Israel frente ao Irão, até o Médio Oriente parece perder interesse para a América, que já retirou do Iraque.
Longe vão os tempos em que as Lajes serviam para a América socorrer Israel na Guerra do Yom Kippur ou, mais recente, no apoio às operações contra Saddam. A memória é curta. Basta pensar nas eleições americanas, em que o Presidente e Romney quase resumiram o debate sobre política externa à relação com a China. Ah, é verdade: o Havai fica a oito mil quilómetros de Pequim, mas a 12 mil das Lajes.
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