Abismos & Fossos
E existe o tal do abismo fiscal (estou com os alpinistas políticos que preferem o termo declive, menos alarmante), envolvendo as negociações entre os thedemocratas de Barack Obama e os republicanos sobre impostos e gastos públicos. Cada partido com sua teologia (republicanos contra impostos e democratas a favor de gastos públicos) e também com as considerações táticas e estratégicas (o que ceder? Como apaziguar as diversas alas partidárias? Como conciliar convicções ideológicas com interesses eleitorais e mesmo o interesse nacional?).
Os dois principais alpinistas são o presidente Barack Obama, é claro, e o presidente da Câmara, o republicano John Boehner. Para Obama, que conseguiu ir ladeira acima e ganhar a eleição em novembro, a meta é ter um segundo mandato de sucesso. Para Boehner, a medida de sucesso será manter o partido unido “na medida do possível”, com algumas alas simplesmente em estado de negação sobre a derrota em novembro e avessas a qualquer tipo de compromisso sobre o abismo fiscal ou qualquer abismo. Sim, os republicanos mantiveram a Câmara, mas perderam as eleições, pois terminaram com menos cadeiras nas duas Casas (no Senado, os democratam ampliaram a maioria).
As opções no abismo fiscal agora são uma grande barganha, uma pequena barganha ou ausência de acordo. Saberemos se os líderes nacionais são grandes, pequenos ou o país simplesmente carece deles. Os liderados querem tudo. Pesquisas são confusas. Os americanos concordam com Obama sobre taxar os mais ricos, mas no geral não querem pagar mais impostos, cortar benefícios e se dizem preocupados com a esbórnia fiscal.
Ah, e os americanos não gostam do Congresso, num sentimento bipartidário, este mesmo Congresso que montou para si a cilada do abismo fiscal em 2011, decidindo por este aumento automático de impostos e corte automático de gastos a partir de janeiro.
Obama está em uma situação mais confortável para negociar: sem acordo, os impostos vão subir para todo mundo e aí os republicanos, o partido antiimposto, vai pagar o pato. Ademais, pesquisas mostram que por uma margem muito confortável, os americanos vão responsabilizar os republicanos por danos causados pela ausência de um acordo, como uma recessão em 2013.
As negociações são tortuosas. Obama venceu, mas o país continua dividido e não apenas em Washington. As divisões partidárias são rígidas, com um fosso imenso entre os dois lados. O sistema de desenho distrital (a palavra precisa é feia: redistritamento) amplia o fosso e diminui o incentivo para o compromisso.
O mapa pós-eleitoral mostra como as áreas vermelhas (republicanas) estão mais vermelhas e as azuis (democratas), mais azuis. Os indicadores de polarização, cortesia do Cook Political Report, são impressionantes. E impressiona também que os resultados eleitorais ainda sejam incompletos (faltam sete distritos).
Dos 234 republicanos eleitos para a Câmara, apenas 15 são de distritos em que Obama venceu. E de 201 democratas eleitos, apenas nove são de distritos que deram a vitória para o republicano Mitt Romney.
E os parlamentares não apenas têm distritos partidários de total confiança, mas 1/4 deles venceram de lavada, com mais de 70% dos votos. Estão em Washington com este mandato triunfal. Qual é o estímulo para fazer concessões, mesmo que Para os líderes, portanto, é este imenso desafio: não apenas impedir o abismo, mas diminuir o fosso.
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