Atras da fachada, o grande escandalo libio de Obama
Na trindade de escândalos que assolam o governo Obama, o primeiro foi Benghazi, o caso do ataque terrorista em 11 de setembro de 2012 à missão diplomática na cidade líbia que resultou na morte do embaixador americano e mais três pessoas. Benghazi explodiu na campanha eleitoral do ano passado e continua sendo o mais convoluto, com o governo minimizando o impacto e os republicanos maximizando. Os outros escândalos são o grampeamento de telefones de jornalistas da agência AP e o alvejamento pela receita federal de grupos conservadores para o escrutínio de mais calibre.
O debate sobre a resposta do governo é extremamente legítimo (tanto na questão da falta de segurança em uma missão diplomática num lugar tão barra pesada, como no contorcionismo retórico do governo para explicar o que aconteceu, no calor de uma campanha eleitoral). Sorry pelo trocadilho, mas neste escândalo há mais fumaça do que fogo.
No entanto, há um escândalo político mais amplo no contexto líbio. Eu pessoalmente fui a favor da intervenção ocidental na Líbia em 2011, que culminou na queda e morte selvagem do ditador Muamar Khadafi. O escândalo está no day after. Está na falta de zelo do governo Obama para contribuir de forma resoluta na reconstrução da Líbia.
Até hoje, o governo de plantão em Trípoli carece de condições para controlar o país, onde pipocam milícias. Grupos rebeldes continuam armados, em aberto desafio ao estado. O Parlamento se submeteu a bandoleiros que tinham cercado os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores, exigindo legislação que negasse emprego público a quem tivera alta posição no governo de Khadafi, que ficou quatro décadas no poder.
Destruir um regime infame é apenas a primeira fase (e alguns infames, como o de Bashar Assad, são duros e muito atrozes na queda), numa longa marcha de reconstrução. Obama nunca foi chegado em intervenções humanitárias e seu projeto estratégico é contrair a presença americana no Oriente Médio. A Líbia foi um acidente de percurso nesta trajetória, aconteceu e exigia responsabilidade. Mas contribuir para a estabilização de um país custa caro e leva tempo.
Max Boot, um dos meus estrategistas conservadores favoritos, vai no ponto. Tomado pela “síndrome do Iraque”, Seu governo deixou a Líbia na mão. E aqui os republicanos não pegam no pé de Obama, pois a base do partido é avessa ao conceito de “nation building”. Eles preferem ficar na fachada do problema, que é Benghazi.
Na paráfrase da música, a pergunta para Obama é: se foi só para desfazer, por que é que fez?
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