O genocídio no Iraque e a intervenção relutante de Obama
Barack Obama é um presidente que vai para a guerra e até mesmo para uma intervenção humanitária com muita relutância. Obama é cerebral. Ele admira o ex-presidente Bush (o pai), um adepto do realismo em política externa, que calculou, ao contrário do filho, que não era do interesse nacional americano ir até às últimas consequências para derrubar Saddam Hussein na primeira guerra do golfo Pérsico em 1991, mesmo quando o ditador iraquiano praticava o genocídio de xiitas e curdos, que se insurgiram com o incentivo de Washington.
Obama foi arrastado para o engajamento e jatos agora decolam do porta-aviões George H.W. Bush, no golfo Pérsico, para bombardear posições dos extremistas do Estado Islâmico. Horas antes do anúncio sobre engajamento no norte do Iraque para, entre outras coisas, frear o genocídio de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, na blitz da barbárie jihadista, Frank Wolf, um respeitado deputado republicano que está para se aposentar após 34 anos no Congresso, escreveu uma carta aberta a Obama: “Assim como o presidente Clinton, que lamentou profundamente o seu fracasso para sustar o genocídio em Ruanda em 1994, eu acredito que o senhor irá lamentar sua inação por muitos anos. O senhor irá lamentar o fracasso para fazer alguma coisa para sustar o genocídio no Iraque”.
Obama está agindo, mas, como eu disse, com relutância e insistindo que a intervenção é limitada. E, de fato, o principal fator nem é humanitário. O governo considera do seu interesse nacional impedir que diplomatas e assessores militares americanos postados em Erbil, na região autônoma do Curdistão, sejam ameaçados pela blitz ensandecida do Estado Islâmico. Dar assistência aos curdos, uma rara história de sucesso no Oriente Médio, também é do interesse estratégico americano. E os curdos são aliados dos EUA. Não devem ser traídos.
E não podemos esquecer o suspeito habitual: petróleo. Com 1.5 milhão de habitantes (população agora inchada com refugiados), Erbil é a capital do governo regional curdo e o centro administrativo de sua indústria petrolífera (a região autônoma representa 1/4 da produção petrolífera iraquiana). Os curdos do Iraque dizem que teriam a nona reserva mundial de petróleo se tivessem um país independente e poços operam perto de Erbil.
Em termos estratégicos, até faz sentido a relutância de Obama para intervir com fins humanitários. Mesmo uma operação limitada poderá ter ramificações imprevisíveis e existe uma síndrome de Iraque que imobiliza os EUA. E pouco mais de dez anos depois da invasão iraquiana ainda é apropriado falar da herança maldita de George W. Bush.
Obama prefere terceirizar as ações militares, como aconteceu na fatídica intervenção na Líbia, convocando os europeus, ou exagerar no uso dos drones, os aviões não tripulados. O fato concreto, porém, é que Obama está de volta ao Iraque, um cenário no qual os americanos entraram de forma desastrosa em 2003 com Bush e saíram de forma igualmente desastrosa com ele em 2011.
O presidente fará o possível para não aprofundar o engajamento em 2014. Se isto for necessário, ele somente irá conquistar os corações e mentes dos americanos, cansados de guerra, apregoando que o Estado Islâmico representa uma ameaça direta aos interesses dos EUA e não meramente a martirizadas minorias religiosas e étnicas no Iraque
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