Karim Sadjadpour, um iranólogo baseado em Washington tem expressão lapidar sobre os desejos de Barack Obama na crise nuclear iraniana: nestes dois últimos anos de mandato, o presidente quer impedir que o regime de Teerã fabrique a bomba, mas também não quer bombardear suas instalações nucleares. Manter negociações indefinidas é um caminho, mesmo que o desfecho inevitável de sucesso seja reconhecer um limitado e altamente vigiado direito iraniano de enriquecer urânio (ok, vamos constar aqui que Teerã insiste que seu programa nuclear tem fins meramente pacíficos).
Na segunda-feira, saiu o anúncio esperado de que prazo para um acordo, autoimposto nas negociações do Irã com a comunidade internacional, foi prorrogado até junho do ano que vem. A prorrogação reflete o fracasso diplomático para restringir o programa nuclear iraniano (entre outras coisas, o regime de Teerã exige a revogação imediata das sanções internacionais como parte de um acord0). Não é à toa que na terça-feira, o líder supremo iraniano, o aiatolá Khamenei, tenha bravateado que o Ocidente não colocou o seu país de “joelhos”.
E o fracasso é um presente para setores da linha dura, tanto em Teerã, como em Washington, para minar ainda mais a possibilidade de um acordo, que obviamente será insatisfatório.
Vem aí em janeiro um Congresso americano mais durão (com a vitória republicana nas eleições de 4 de novembro), com pressões por mais sanções (algo que viola o acordo preliminar entre o Irã e o outro lado, composto por EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China). O argumento dos durões é que mais pressão dobrará Teerã, enquanto os pacientes negociadores dizem que é exatamente o contrário: vai incentivar o Irã a abandonar o diálogo.
No Irã, a ala ultraconservadora da revolução xiita faz barulho contra um acordo, contra o Ocidente e contra o presidente reformista Hassan Rouhani (ele aposta suas fichas no acordo para obter o fim das sanções e reativar a economia). No entanto, como lembra a especialista Suzanne Maloney, do Instituto Brookings, em Washington, o duelo de Rouhani é de fato com apenas uma pessoa: o aiatolá Khamenei. Ele permitiu até agora a mera continuidade iraniana nas negociaçoes, mas faz exigências maximalistas em pontos altamente técnicos, como as medidas de enriquecimento anual de urânio por centrífugas.
A linha dura em Washington e nosso homem em Teerã terão agora sete meses para empobrecer ainda mais as chances de um acordo insatisfatório.
Leave a Reply
You must be logged in to post a comment.