O adolescente e perigoso show iraniano dos republicanos
Antes de tudo, eu quero saudar os sete senadores americanos da maioria republicana que não se juntaram a 47 partidários para torpedear a diplomacia do presidente democrata Barack Obama. Os 47 escreveram esta semana uma carta à “liderança iraniana”, explicando que o Senado tem o direito de vetar os tratados internacionais firmados pelo presidente e lembrando que quando Obama deixar a Casa Branca em 2017 seu sucessor poderá revogar qualquer acordo sobre o programa nuclear iraniano. Em suma, os senadores republicanos deram um toque no aiatolá Khamenei para não confiar no presidente Obama.
Para ser didático, o Executivo precisa do consentimento do Senado para ratificar um tratado internacional. No entanto, a preferência da Casa Branca, sob qualquer partido, é o chamado acordo executivo. Ele não exige a aprovação do Senado. Em contrapartida, pode ser revertido pelo sucessor. Situação é complicada, pois, para um acordo ser plenamente consumado, o Senado precisa repelir as sanções que aprovou contra o Irã, que integram um pacote internacional.
A carta foi iniciativa teatral do senador calouro Tom Cotton, o mais jovem do Senado (37 anos), uma espécie de Sarah Palin com diploma de Harvard. A carta mostra que o Partido Republicano agora também direciona suas baterias para a frente externa, após seis anos de bloqueio sistemático das iniciativas de Obama na frente doméstica. É o partido do no, no!
Outro foco republicano na frente externa é o reatamento de relações diplomáticas dos EUA com Cuba. A crescente agressividade republicana é fruto da vitória nas eleições de novembro passado. O partido controla as duas casas do Congresso e o Senado tem um papel mais importante em política externa.
Primeiro, foi o acintoso convite do presidente da Câmara, John Boehner, para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, discursar em sessão conjunta do Congresso contra um acordo nuclear com o Irã e agora é esta carta. Em termos políticos, no sentido mais varejista, até faz sentido. Afinal, o presidente quer investir em política externa nos dois anos finais de governo e os republicanos farão tudo para torpedear suas ambições.
Em termos estratégicos, porém, é um desastre. Esta sabotagem republicana pode destruir o bipartidarismo na política externa americana e minar perigosamente o poder de barganha do presidente que é encarregado constitucionalmente de conduzir os interesses do país no exterior. A desforra democrata virá quando um republicano estiver na Casa Branca.
A carta e o discurso de Netanyahu, na verdade, enfraquecem os EUA, projetando divisões e ambiguidades do país mais poderoso do mundo no exterior. Muitos congressistas democratas são contrários à aposta da Casa Branca em um acordo nuclear com o Irã. No entanto, esta beligerância adolescente dos republicanos os forçará a se alinhar por lealdade partidária com o presidente. A carta é um maná para a linha dura em Teerã, que também faz o que pode para torpedear um acordo. Se houver um colapso do penoso processo de negociação nuclear, que envolve a comunidade internacional, o Irã poderá responsabilizar o Congresso americano.
Já para Obama, de fato, faz cada mais sentido a alcunha de pato manco. Ele é um presidente com margem de manobra cada vez mais reduzida, dentro e fora do país.
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