Obama’s Post-Europeanism Never Existed

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Os mandatos de Barack Obama têm sido descritos como pós-europeus por desvalorizarem a Europa na hierarquia das prioridades americanas. É provável que o discurso oficial tenha tocado mais nos desafios da Ásia e do Médio Oriente do que da Europa, mas isso não significa que esta tenha saído do radar. Mais do que uma regressão na substância transatlântica, assistimos à tentativa de afinação de um novo discurso. Mas basta recuperar o artigo de Hillary Clinton, “America”s Pacific Century” (2011) – e o mais próximo de uma grande estratégia – para tirarmos três conclusões: as realidades malditas do Médio Oriente e da Europa não permitem que sejam desvalorizadas; o pivô americano para o Pacífico não teve o ritmo desejado; não há qualquer “fim de ciclo” no Afeganistão e Iraque, que ainda agora entraram nas mutações posteriores à retirada americana. Ou seja, a realidade tramou a dinâmica de uma narrativa pós-europeia.

Primeiro, a agressividade russa ressuscitou a NATO, enterrou o apaziguamento entre Obama e Medvedev e afinou a mira energética sobre os governos europeus, no momento em que a revolução do gás de xisto trouxe independência aos EUA. Este é o tempo do regresso do Leste da Europa à prioridade do Pentágono e no qual a NATO será palco de concorrência pela atenção logística americana. Sem querer, Putin recolocou os EUA como a “nação indispensável” na Europa. Mas este é também tempo de oportunidades. A maioria das reservas de gás de xisto americanas estão na costa atlântica e Canadá e México estão também a revelar o seu potencial energético, tornando o Atlântico na geografia apetecível à diversificação europeia. Além de ser segura é pautada por relações de cumplicidade política e económica praticamente inquebrantáveis.

Segundo, convém destapar a realidade económica tantas vezes ofuscada pelo suposto manto pós-europeu. Desde 2000, a China representou apenas 1,5% do investimento global americano, 12 vezes menos do que para a Holanda e seis vezes menos do que para a Irlanda. Em 2013, os EUA investiram quatro vezes mais na Holanda do que em todos os BRIC juntos e, em 2014, os proveitos das empresas americanas na Europa ultrapassaram os resultados na América Latina e Ásia em conjunto. Nesse ano, a Florida exportou oito vezes mais para a Europa do que para a China e a Califórnia, na costa do Pacífico, o dobro. Podemos discutir os termos da narrativa pós-europeia de Obama, mas não negar a realidade.

Os EUA vão voltar a ser a grande potência equilibradora da Europa, por serem a única com condições para influenciar a Alemanha a gerir a zona euro, evitar a saída do Reino Unido da UE, e dar o aviso a Le Pen caso esta, do Eliseu, acene a Putin com novo eixo. Nunca, depois de 1945 e 1989, a Europa precisou tanto dos EUA como hoje.

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