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Obama’s Legacy

July 20, 2016

Published in El Pais
(Brazil) on 9 July 2016
by (link to original link to original)

Translated from by Fernanda Townrow. Edited by Eva Langman.

The three elements that have shaped his presidency at the end of two mandates are the issue of race, the state of international affairs and his character.

Obama has finally arrived in Spain, though with a shortened schedule due to the terrible events in Dallas. This is a visit widely considered to be a gesture of diplomacy for a president about to step down after two terms in office, and one that will make history, due not only to his indisputable successes, of which there were many — though, naturally, he is leaving behind problems yet to be solved — but also due to the coinciding, under his mandate, of three elements that strongly shaped his presidency: the issue of race, the state of international affairs and his character.

The first point — the ascension of a man of African-American origin to the White House — had already signified, independent of the politics, a historical watershed. Even though the matter of race, as demonstrated by recent events, is still very [controversial], Obama’s presidency marks an end to the North American democracy’s original sin: that it was a country that emancipated itself as a colony, but at the same time practiced slavery and, [after abolition], a racial discrimination with an ease incompatible with its founding values. Obama’s arrival to the White House was the culmination of a long emancipation process of the African-American minority following the Civil War, through to the fight for civil rights in the decade of the 1960s in the 20th century.

Regarding the second point, Obama’s presidency has not only reconciled North Americans with their history of racial divisions, but has also made way for a profound reconfiguration of the position and image of the United States in the world. After the disastrous double term of his predecessor, George W. Bush, who left an [aftermath of] war and geopolitical tension, Obama led efforts to restore the status of his country from the position of a natural leader, a trustworthy ally and exemplary partner [in global relations]. Even though he didn’t succeed as well as he expected — due mostly to lack of cooperation from others — if there is one thing that has characterized his presidency, it is the desire to extirpate any sign of religious confrontation with Muslims and the wish to avoid the dynamics of a [new] cold (or hot) war with Russia, China or Iran. As Spain can confirm, the United States is still, under the leadership of Obama, a demanding but respectful and loyal partner.

Lastly, it’s important to emphasize his exceptional character. Brainy and casual at the same time, he gave his presidency a tone that will be difficult for others to imitate. He was “above” any political disputes, displayed humbleness and never antagonized his enemies. At the same time, it’s important to celebrate the fact that he never “gave in” — a common thing to do these days — but remained very popular. Unlike other leaders, dominated by their egos and desire for more power, Obama uses [his authority] with strength and pragmatism, in order to launch the policies and values that, in his opinion, promote and inspire a better country. This profoundly honest way of understanding politics is his finest legacy.

O legado de Obama

Três elementos que marcaram fortemente sua presidência ao final de dois mandatos: a questão racial, o contexto internacional e seu caráter

Obama chegou finalmente à Espanha, embora com um programa encurtado pelos terríveis acontecimentos de Dallas. Trata-se de uma visita amplamente buscada pela diplomacia no final do calendário de um presidente que já está de saída após dois mandatos que entrarão para a história, não apenas pelos incontestáveis êxitos, que foram muitos − embora, como é natural, também tenha deixado problemas por resolver −, mas também pela coincidência, sob seu mandato, de três elementos que marcaram fortemente sua presidência: a questão racial, o contexto internacional e seu caráter.
Quanto ao primeiro, a chegada de um presidente de origem afro-americana à Casa Branca já significou − por si só, independentemente de suas políticas − um histórico divisor de águas. Embora a questão racial, como demonstraram os distúrbios recentes, continue estando muito presente, a presidência de Obama acaba com o pecado original da democracia norte-americana: um país que se emancipou como colônia com base no princípio do governo do consentimento, mas ao mesmo tempo praticou, primeiro, a escravidão e depois, a discriminação racial com uma naturalidade incompatível com seus valores fundacionais. A chegada de Obama à Casa Branca foi o ponto culminante de um longo processo de emancipação da minoria afro-americana que se seguiu à Guerra Civil e passou pela conquista dos direitos civis nos anos sessenta do século 20.

Quanto ao segundo elemento, a presidência de Obama não só reconciliou os norte-americanos com sua história de divisões raciais, como também abriu caminho para uma profunda reconfiguração da posição e da imagem dos EUA no mundo. Depois dos desastrosos mandatos de seu predecessor, George W. Bush, que lhe deixou um rosário de conflitos bélicos e tensões geopolíticas, Obama orientou sua presidência a partir do empenho em restaurar a posição de seu país como líder natural, aliado confiável e parceiro exemplar. Embora não tenha tido tanto sucesso quanto pretendia − em grande parte por causa de outros −, se há algo que tem caracterizado sua presidência, é o desejo de dissipar qualquer sinal de confronto com o mundo muçulmano, mas também o desejo de evitar dinâmicas de guerra fria − ou quente − com a Rússia, a China ou o Irã. Como a Espanha pôde comprovar, os EUA continuam sendo, com Obama, um parceiro exigente, mas respeitoso e leal.

Por último, é preciso destacar seu caráter excepcional. Cerebral e natural ao mesmo tempo, ele deu à sua presidência um tom que será difícil imitar. Situou-se acima das disputas partidárias, sem se endeusar nem entrar em confronto com seus inimigos. Ao mesmo tempo, é preciso celebrar o fato de que, apesar de sua popularidade, nunca cedeu à tentação do populismo, tão comum nestes dias. Ao contrário de outros líderes, dominados por seus egos e pelo mero desejo de aumentar seu poder, Obama o utiliza de maneira firme, mas pragmática, para impulsionar as políticas e valores que, a seu ver, promovem e inspiram um país melhor. Essa forma profundamente honesta de entender a política é seu melhor legado.

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