Na primeira Conferência do Clima, após o presidente Donald Trump prometer sair do Acordo de Paris, a delegação americana não atrapalhou as negociações. Mas também não ajudou
BRUNO CALIXTO
Uma réplica da Estátua da Liberdade emite fumaça em uma arte de protesto criada pelo artista dinamarquês Jens Galschiot. A estátua foi apresentada em Bonn, durante a 23ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP)
Uma réplica da Estátua da Liberdade emite fumaça em uma arte de protesto criada pelo artista dinamarquês Jens Galschiot. A estátua foi apresentada em Bonn, durante a 23ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (Foto: Patrik Stollarz/AFP)
Os 197 países que participam das negociações sobre mudanças climáticas na ONU encerraram nesta sexta-feira (17) mais uma rodada de negociações sobre o Acordo de Paris. O acordo, assinado na capital francesa em 2015, define que deveremos cortar as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global. Desta vez, a Conferência do Clima foi em Bonn, na Alemanha – e foi a primeira grande reunião climática após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a intenção de retirar o país do acordo.
Apesar da forte retórica de Trump, contrária a adotar medidas contra as mudanças climáticas, a delegação americana não ficou no centro das atenções. Os Estados Unidos foram para Bonn com uma delegação menor do que nos anos anteriores e tiveram uma participação mais tímida. Porém, não criaram obstáculos para as negociações. “A conferência deste ano mostrou que a negociação continua nos trilhos, com ou sem os Estados Unidos”, diz Maureen Santos, coordenadora de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll, que acompanhou as negociações.
>> 10 dúvidas em relação às mudanças climáticas
Segundo Maureen, a saída dos americanos não afetará a integridade do acordo. A dúvida que fica é se o Acordo de Paris será efetivo em limitar o aquecimento global a 2 graus célsius sem a participação do governo federal americano. A boa notícia é que há um movimento forte de outros setores da sociedade americana, como os governos estaduais, municipais, empresas e sociedade civil. Esses grupos estiveram presentes na conferência e até fizeram um pedido para participar das negociações, como se representassem um país. O governo Trump, entretanto, continuará nas negociações por algum tempo. Pelas regras do acordo, Trump só pode sair formalmente do acordo em 2020.
Já o Brasil viveu momentos contraditórios na conferência. Por um lado, o país continua sendo fundamental na parte diplomática e negocia bem em temas importantes. O governo brasileiro apresentou uma proposta para sediar a Conferência do Clima em 2019 e apresentou números de queda no desmatamento da Amazônia. Mas nada disso conseguiu evitar as críticas pela forma como o governo do presidente Michel Temer vem conduzindo a política doméstica.
“O Brasil foi muito questionado na conferência”, diz Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, uma rede de ONGs que atua em mudanças climáticas. “A Medida Provisória 795 foi muito criticada, como também os planos de energia para os próximos dez anos, em que o Brasil prevê que 70% de todo o investimento será em combustíveis fósseis.” A MP 795 destina subsídios para combustíveis fósseis, como petróleo e gás. A queima de combustível fóssil é a principal causa do aumento da concentração de carbono na atmosfera, que provoca o aquecimento global. Durante a semana final de negociações, o Brasil foi escolhido para ganhar o “Fóssil do Dia”, uma espécie de prêmio sarcástico que ativistas dão a países que atrapalham as negociações.
Apesar desses pontos, em geral a Conferência do Clima deste ano foi mais burocrática. Desde Paris, em 2015, os países se esforçam em colocar o acordo de pé. Logo, não há um forte embate político. Ao fim da conferência, saíram três documentos. O primeiro é o rascunho das regras do Acordo de Paris, o segundo é sobre as metas definidas antes do Acordo e o terceiro é um diálogo para aumentar o nível de ambição no futuro. “A conferência entregou tudo o que ela se comprometeu. Mas não conseguimos, ainda, traduzir essa entrega em redução de emissões ou recursos financeiros, que são as questões mais crítica”, diz Rittl. Essas questões provavelmente só serão definidas na conferência de 2020.
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