Vêm a público depoimentos de como assessores buscam isolar Trump de decisões cruciais
Tornaram-se fato corriqueiro, há algum tempo, desavenças de Donald Trump com membros de sua equipe. Agora vêm a público depoimentos de como esses assessores atuam internamente para fazer crer que obedecem ao chefe enquanto, na verdade, buscam isolá-lo das decisões cruciais.
A descrição mais eloquente dessa estratégia encontra-se em um artigo de opinião publicado na quarta-feira (5) pelo jornal The New York Times. Em atitude inusual e controversa, o veículo aceitou o pedido de anonimato do autor, um funcionário de alto escalão descontente com a gestão do republicano.
Relata-se que alguns dos auxiliares próximos ao mandatário trabalham para “frustrar partes de sua agenda e suas piores inclinações”, uma vez que ele “continua a agir de maneira nociva à saúde da República” —em suma, uma sabotagem sob a justificativa de reduzir potenciais danos.
A abordagem em relação à Rússia é citada como exemplo. Trump “mostra preferência por autocratas e ditadores”, diz o texto, e se queixa dos conselheiros de segurança nos bastidores por manterem sanções financeiras contra Moscou —o que contraria o tratamento dócil dispensado por ele a Vladimir Putin.
O constante exercício de contornar o presidente também permeia o livro “Fear” (medo), do consagrado jornalista Bob Woodward —um dos responsáveis por revelar o escândalo de Watergate—, que entrevistou diversos integrantes do governo para entender o funcionamento da Casa Branca.
Segundo Woodward, o secretário de Defesa, James Mattis, recebeu em 2017 a ordem de assassinar o ditador da Síria, Bashar al-Assad, acusado de um ataque químico contra civis. Mattis disse que assim faria, mas orientou um assessor a planejar algo “mais comedido”. Por fim, os EUA lançaram mísseis contra bases militares sírias.
Diante de tamanha disfuncionalidade administrativa, não surpreende que pairem dúvidas acerca da capacidade de Trump de chegar até o fim de seu mandato.
Democratas já tentaram, de forma temerária, apontar uma alegada insanidade do presidente para embasar um pedido de impeachment. Há, porém, ameaças bem mais concretas a rondá-lo, em especial a investigação sobre o suposto conluio entre a campanha do então candidato republicano com autoridades russas.
Caso o governo venha mesmo a ruir, não poderá culpar alguma ala “traidora” da Casa Branca; se esta de fato opera em larga escala, acaba por ajudar o chefe a estender sua sobrevivência política.
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