Donald Trump cria mescla de nacionalismo econômico e liberalismo
Adversários e aliados criticam sua forma de governar no improviso
Donald Trump inverte a lógica da política tradicional desde que decidiu disputar a Casa Branca.
Atravessou a campanha de 2016 vociferando que interesses americanos deveriam estar sempre em primeiro lugar e que imigrantes e acordos de livre-comércio não teriam importância no seu governo.
Muito pelo contrário: a retórica protecionista contrariava aspectos historicamente liberais do Partido Republicano e antecipava a dificuldade de encaixar Trump como seguidor de uma doutrina que não fosse a dele mesmo.
Na Casa Branca, o presidente colocou em prática o nacionalismo econômico, com medidas intervencionistas que o afastaram do liberalismo clássico.
Segundo especialistas, porém, sua gestão não exclui completamente a filosofia que surgiu na Europa e nos EUA no século 19.
“Existe o liberalismo americano, isto é, defensor de um governo maior e mais ativo, e o clássico europeu, que defende mais liberdade pessoal e econômica. Posso ver elementos de ambos em Trump”, afirma o analista político Michael Barone, do American Enterprise Institute.
Duas de suas principais investidas, o por ora fracassado muro na fronteira dos EUA com o México e a guerra comercial com a China, são exemplos concretos que passam longe do que acreditam os liberais.
Já a primeira vitória de Trump no Congresso —a aprovação de uma reforma tributária em 2017— flerta com valores liberais de redução dos impostos.
“Medidas de Trump no comércio e na política imigratória estão em tensão com o liberalismo clássico, mas não vejo o nacionalismo como oposto ao liberalismo”, diz Barone.
A avaliação é endossada por Paula Tufro, do Atlantic Council, para quem é possível um nacionalista defender o livre-comércio e o livre-mercado, apesar de este não ser o caso de Trump.
“Na história americana há presidentes que escolheram agir unilateralmente, mas o diferente agora é a disposição de acabar com mecanismos multilaterais.”
Trump já falou contra o Nafta, bloco formado por EUA, México e Canadá, e tirou o país do TPP (Tratado de Associação do Transpacífico)e do Acordo de Paris.
Apesar de seguir a lógica de corte de impostos, sua reforma tributária privilegiou os mais ricos, com objetivo de criar empregos e investimentos nos EUA.
“A ideia não era só reduzir tributos, mas tornar mais fácil para empresas repatriarem lucros”, diz Monica DeBolle, do Peterson Institute. “Para uma multinacional, o liberalismo é permitir investimento nos lugares mais atraentes. A política fiscal americana tentou inverter a lógica para que empresas voltassem a investir no país. Não deixa de ser um intervencionismo.”
Mas não é que Trump se baseie em métodos ou doutrinas para exercer poder. Uma das principais críticas de adversários e aliados é justamente sua forma de governar no improviso.
“Ele vê uma oportunidade e toma a decisão, caso por caso”, diz Tufro.
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