Donald Trump Dreams of Taking Revenge on New York*

<--

Donald Trump sonha em se vingar de Nova York

Não há motivo para relaxar a guarda se Bolsonaro perder; a fúria dos rejeitados só deve aumentar

COMPARTILHAMENTO ESPECIAL

26.out.2022 às 17h45

O inferno não conhece fúria como a de um homem rejeitado. De Donald Trump a Paulo Guedes, os tolos que escolhem desfilar sua cintilante mediocridade em público, remoendo rancor dos clubes que não os acolheram como sócios, podem não ter visão para governar, mas não conseguem domar a cólera destruidora.

Guedes, que está deixando um incêndio de lixeira para seu sucessor, esperneia de rancor, imitando a dicção de um possível ministro da Fazenda de Lula cujo currículo ele inveja, quem sabe, porque começou com sucesso como CEO de um banco americano.

Donald Trump, agora morador da Flórida, não alardeia as raras visitas a Nova York, onde nasceu e morou até se mudar para a Casa Branca, em 2017. A maioria dos eleitores nova-iorquinos despreza o ex-presidente, que ameaça nova candidatura à Casa Branca em 2024.

Mas a rejeição que incomoda mais é outra. Assim como Guedes, que nunca foi levado a sério por economistas com intelecto, solidez acadêmica e planos de governo, Trump era desdenhado pela sua turma, os titãs da elite econômica nova-iorquina.

Desde o começo da pandemia, o crime voltou a subir em Nova York. Mas um exame das estatísticas oficiais de setembro mostra que a metrópole ainda é mais segura do que era em 2000, quando a cidade e o estado eram governados por republicanos.

Ao contrário da última era de crime violento, marcada pela falência fiscal de Nova York nos anos 1970, que seguiu com a epidemia de crack até os 1990, a nova alta do crime é munição ideal para os trumpistas locais. Eles não são maioria, mas têm grandes aliados na mídia controlada por Rupert Murdoch.

Um deputado republicano que negou a eleição de Joe Biden tem agora chance de se eleger governador do estado de Nova York. Lee Zeldin é antiaborto, antipolítica ambiental e antirreformas judiciais para proteger minorias encarceradas em números desproporcionais. Ele faz uma campanha de uma nota só —crime, crime, crime

Se eleito, deve estender o tapete vermelho para o ogro laranja. Há quem especule que daria indultos de presente a Trump, que enfrenta um processo civil do estado e um criminal na cidade contra sua empresa.

Recentemente, o diretor e roteirista Tony Gilroy (“Conduta de Risco”, 2007) recordou a busca por uma locação para o filme de terror “Advogado do Diabo” (1997). “Queríamos o mais berrante e horroroso apartamento de um empresário”, disse ele, que cresceu em Nova York, numa referência à cobertura da Trump Tower, revestida de dourado e imitações de pinturas do Palácio de Versalhes.

A cobertura é habitada no filme pelo personagem and acusado de assassinar a mulher, o enteado e a empregada. “Trump nos deu a chave, nem precisamos adaptar o cenário”, lembrou Gilroy. “Ele vinha espreitar a filmagem todo dia, tentando chegar perto da Charlize Theron. E todos nós rindo no set daquele palhaço vigarista, o perdedor que fingia ser rico”, como os que o desprezavam.

Trump infligiu derrotas em série ao Partido Republicano desde 2018. Mas seus capangas têm chance de capturar a maioria na Câmara e assentos nos Legislativos estaduais em novembro. Não é mais hipérbole afirmar que a democracia americana e a brasileira estão sob ameaça.

Se o Brasil acordar na segunda-feira (31) liberto do mais repulsivo ocupante do Planalto, não há motivo para relaxar a guarda. A fúria dos rejeitados só deve aumentar.

About this publication