O ‘momento Osama’ de Trump
Sob pressão do processo de impeachment e da retirada americana da Síria, presidente americano tenta capitalizar morte de terrorista do Estado Islâmico diante da opinião pública
O momento não poderia ser mais propício para o presidente Donald Trump, que se esforçou para capitalizar para si o anúncio da morte de Abu Bakr al-Baghdadi, o fundador do Estado Islâmico. Não economizou palavras para ressaltar o ato de bravura no abate do terrorista mais caçado pelos EUA e vaticinar que “o mundo está mais seguro” graças a seu governo.
Trump, finalmente, teve, em cadeia nacional, o seu “momento Osama”. Foi também num domingo, o 1º de maio de 2011, que o então presidente Barack Obama anunciou, com uma curta e vigorosa declaração, a morte de Bin Laden, fundador da al-Qaeda.
As circunstâncias, porém, são completamente diferentes para os dois presidentes: Trump está sob pressão de um processo de impeachment na Câmara dos Representantes, deflagrado pela tentativa de influenciar a Ucrânia a prejudicar a campanha do adversário político Joe Biden.
Ainda que a sua destituição do cargo, hoje, pareça improvável, pois esbarra no Senado de maioria republicana, o desgaste indica um caminho tortuoso para a reeleição.
Trump tem tentado desviar a atenção dos americanos do Capitólio para o cenário externo. No início deste mês, anunciou a retirada das tropas americanas da Síria, deixando seus aliados curdos à mercê de uma ofensiva brutal da Turquia. Essa medida foi bastante criticada, sobretudo, por reabrir a porta para um novo fortalecimento do Estado Islâmico na região.
O fim de Baghdadi é, sem dúvida, um trunfo para Trump. Sua morte foi anunciada, erroneamente, em outras ocasiões. Desta vez, porém, conta com o crédito do presidente americano, que assegurou ter a confirmação de DNA e não poupou detalhes sobre o feito: “Ele morreu gritando como um cachorro, morreu como um covarde.”
O presidente agradeceu a ajuda da Rússia, dos curdos e da Turquia e esforçou-se para fazer a morte do terrorista parecer mais significativa do que a de Osama bin Laden, há oito anos.
Embora tenha sido a principal face do Estado Islâmico, organização que disseminou terror e decapitações pela Síria, recrutando militantes no Ocidente, su líder al-Baghdadi não é um nome conhecido entre os americanos. Seu desaparecimento tampouco representa o fim da rede terrorista, como Trump assegurou em cadeia nacional. Basta ver o exemplo da al-Qaeda, que sobreviveu ao assassinato de seu líder.
A Casa Branca de Trump seguiu os passos de Obama e divulgou a foto exibindo o presidente acompanhando, na Sala de Crise e em tempo real, a ação que deu fim ao terrorista al-Baghdadi. O risco desse “momento Osama”, para o presidente que enfrenta graves acusações de abuso de poder, é de um efeito limitado diante da opinião pública.
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