Pandemia afasta ainda mais realidades dos EUA e do Brasil
Retomada mais rápida no país atrai imigrantes e pode gerar vantagens no longo prazo
Dez horas de voo, alguns milhares de reais e um passaporte com visto especial separam o Brasil dos Estados Unidos. O viajante dorme enquanto sobrevoa um país onde muita gente ainda espera sua vez de se vacinar contra a Covid e acorda em outro, no qual as pessoas andam sem máscaras nas ruas, em meio a várias placas que anunciam “temos vagas”.
Os estrangeiros que chegam aos EUA encontram um país que aproveita a reta final do verão. Visitantes e moradores se aglomeram em atrações turísticas, lotam bares e restaurantes, abraçam os amigos e planejam viagens.
Apesar do movimento nas ruas, o noticiário local enfatiza o avanço da variante delta, que gera altas de casos no país. O uso de máscaras vai sendo retomado em cidades como Washington, onde a maioria costuma levar o acessório no bolso e o vestir apenas ao entrar em lugares fechados, como a farmácia ou o metrô.
O risco de piora com a chegada do frio existe, e o principal desafio agora é convencer os cerca de 40% de americanos que ainda não se vacinaram a irem tomar suas doses. Premiações tiveram efeito limitado, e agora empresas e governos começam a exigir a imunização de seus funcionários. Mas as vacinas em si estão garantidas. Basta ir tomá-las.
Viajar de um país a outro traz a sensação de que a Covid deixou a realidade de países ricos e pobres ainda mais distante. O avanço na vacinação e a queda nas mortes dos últimos meses nos EUA são seguidos por alguns bons números na economia, como a queda no desemprego. O índice atingiu 5,4%, mesmo nível de 2015. Antes da pandemia, estava em 3,5%.
Estas condições aumentam os atrativos para a vinda de imigrantes, em um processo que poderá atrasar ainda mais a recuperação nos países pobres. Com menos gente para pensar em alternativas e colocá-las em prática, fica mais difícil avançar.
Por enquanto, a entrada direta de brasileiros nos EUA vale apenas para algumas categorias, como estudantes universitários e especialistas em áreas como química e TI. Enquanto muitos países mantêm restrições à entrada de alunos estrangeiros, os americanos reabriram as portas antes e podem ganhar vantagem no longo prazo: estes imigrantes poderão criar tecnologias e aperfeiçoar as atuais, incluindo as técnicas para combater pandemias.
Ao mesmo tempo, cresce o número de estrangeiros que tentam entrar nos EUA cruzando a fronteira do México de modo irregular. De outubro de 2020 a maio de 2021, 22 mil brasileiros foram capturados. Esses viajantes querem ocupar as vagas ociosas em funções essenciais que, muitas vezes, não atraem americanos, como construir casas, fazer comida e limpar a sujeira. Dispostos a trabalhar duro e a se arriscar para obter o que querem, muitos cidadãos preferem encarar uma jornada perigosa, que dura dias e custa dezenas de milhares de dólares, a seguir dormindo e acordando no Brasil.
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