Choro antecipado de perdedor
Proposta de adiar eleições funciona como uma manobra de Trump para desviar atenções de tombo econômico, tumultuar campanha e incutir desde já em seus partidários a ideia de que eleição será fraudada por votação pelo correio.
Não surpreende que o presidente Donald Trump proponha adiar uma eleição quando está pelo menos oito pontos atrás de Joe Biden na média das pesquisas nacionais e também em desvantagem nos estados decisivos. Tampouco que ele grite pelo Twitter que a votação por correio será imprecisa e fraudulenta. E muito menos que sugira a prorrogação do voto minutos após o anúncio do tombo de 9,5% do PIB em relação ao primeiro trimestre.
O presidente usa o artifício da distração para atacar a democracia americana, sabendo que não tem poderes para adiar uma eleição; cabe ao Congresso fazê-lo. E que, ainda assim, nunca um pleito deixou de ser realizado na primeira terça-feira de novembro — nem mesmo durante a guerra civil ou a Segunda Guerra Mundial.
Desta vez, republicanos desafiaram abertamente a nova tentativa do presidente de minar a legitimidade da eleição. Uma contagem do jornal “The Washington Post” dá conta de que desde março o presidente criticou pelo menos 70 vezes o voto pelo correio. É bom lembrar que ele próprio votou desta forma na eleição passada.
O desastre catastrófico que Trump prevê no dia 3 de novembro não tem qualquer base, mas indica que a eleição será turbulenta. O presidente tumultua o processo ao não se comprometer a reconhecer o resultado do pleito. Era o que prometia em 2016, ao bradar insistentemente que a eleição seria roubada. Até vencer e abandonar o assunto.
Desta vez, o choro de perdedor começa mais cedo, 96 dias antes da eleição, aparentemente como uma manobra para incutir em seus partidários a tese de que o resultado das urnas será inválido.
“Se ele acredita nisso, deve reconsiderar sua participação e ceder lugar na disputa a alguém que não esteja procurando uma desculpa para justificar a derrota”, argumentou o jornal “The Wall Street Journal” em seu editorial.
É também muito emblemático que a proposta de adiamento das eleições tenha sido proferida pelo atual ocupante da Casa Branca no mesmo dia em que três ex-inquilinos — Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama — deixavam claro, nas homenagens póstumas ao congressista John Lewis, a ameaça iminente à democracia e à justiça social nos EUA. De tanto repetir o manual da fraude, Trump claramente se isolou.
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